Monólogo de Uma Atemporal
O Monólogo de Uma Atemporal
Nunca tinha estado aqui! Não conhecia o lado de cá, nem tinha saboreado o sabor das maças, a àgua cristalina da fonte, o estar entre arvoredos, serras e montanhas, o prazer do calar de um beijo, o sentir o ígneo da troca de carícias e afagos na cama dos prazeres.
Sabia que existia as cores e o sombreado, mas pelo boca a boca me foi dito que nada era igual a não ser estar em um corpo e viver o noticiado.
Embrenhei-me em um ventre de mulher, e nasci.
Percorri, com a ajuda do veículo corpóreo, o degustar do sabor dos doces, dos licores e das maças. Alimentei-me do estar nos sentimentos sublimes e gloriosos de ser gente.
Paguei caro por amar e ser amada. Vivi só também no revés, o amar e não ser correspondida.
Bebi o cálice amargo no acender de cada dia, que o tempo comia-me. Em seu silêncio trazia seu trabalho no aparecimento das rugas e cabelos brancos
Mesmo assim, a vida vivida não tornou-se indigesta; continuava a ter sede dela,a tinha, era minha, não o corpo em degeneração.
Quando o fim se aproximava, para aquela porção de vida no corpo, onde as janelas da alma escurecia e os moedores perdiam-se na engrenagem, o afã de viver ainda batia na jugular.
Percebi que tinha muito a viver. O Arquiteto da criação não foi modesto comigo.
Mesmo que a máquina corpórea estava indo a falência, em mim tinha tudo.
Ainda Eu me queria para viver, viver tudo de novo.
Mesmo que num novo corpo, num novo tempo.