Lezírias

Lezírias




Me inclino ao ocidente, com todo o respeito pela outra margem
Aos sonsos parece que tudo está ruindo,
Nada disso, são os aprestos para a terceira via
E nas infindáveis lezírias que a vida me apresentou,
Docemente,

Não dormi em enxerga pela Graça de Deus
Mas conheci nédios sortidos, via de regra enfatuados,
tentaram bem aluir minhas forças
Uma única vez me refestelei com anho ao molho de hortelã
Resmoneei junto a choldra em mais de uma ocasião
Usei sentinas de vários tipos para diversos fins
Recebi emolumentos ora miúdos, ora régios

Política nessas plagas é pacto de vitimários, coisa de carniça e carniceiro,
pouco comento além do Templo onde cultuam, que vejo de longe, eternamente envolto em inflexível orgulho, chamejante e majestático com o tilintar do seu rebanho, a estridência das suas mentiras, o ágio obsceno circulando debaixo das vigas, e o sangue dos distraídos jorrando incessante sob o palavrório iníquo.

Das outras ações fui como a chuva que o chão agradece,
embora uma ou outra planta mais frágil tenha se
ressentido com a veemência do aguaceiro

Voltei na lezíria, nada de soalheira aqui,
só o frescor da brisa repleta de anjos
Doravante sou sol com ares de herói envelhecido
Suspirando por novas paragens

E me cerco de almas jucundas, tão antigas quanto Noé,
Ouvimos música e sorvemos doçuras de uma cesta
enfeitada com nastro amarelo
A cor da sabedoria que há de lançar suas raízes
Em cada côvado deste espaço tão carente de sossego e nitidez



(Imagem: Map of the World Bartholomaeus Anglicus's 'De proprietatibus rerum', late 15th century , Paris)


(http://www.bernardgontier.com)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 28/01/2021
Reeditado em 25/06/2021
Código do texto: T7170854
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