Possessão pelo ensimesmamento

Não tendo o que falar, apenas calo, e calo muito.

Cansado de quanto eu calo, escrevo, e escrevo muito.

E do tanto que eu escrevo, mudo de gênero, experimento.

E nos meus experimentos, inconformismo.

No meu inconformismo, desespero, livros e mais livros

sobre a mesa. Espero lê-los.

Espero tê-los em minha mente bem claros.

Espero a noite em claro me trazendo algo novo.

E de novo sinto-me só estando ao mundo, às pessoas.

Não quero ser igual, tal qual a menina cujo corpo a envaidece.

Não quero a minha mente envaidecida, nem posso dar-me isso.

Quero minha mão estendida, e quão é difícil estender as mãos.

Quão é difícil ser são. O mundo é um cão roendo o único osso

que sobrou do jantar, caçando a última espécie de animal selvagem

que sobrou na mata em desmatamento, rosnando a nós, outros cães,

querendo roubar-lhe sua minguada comida.

Sinto-me só. Estou só. Ninguém, nem mesmo eu, me entende.

Se é tristeza ou se é bonito, digo-vos “sou eu”.

E eu não sou bonito, nem na minha incoerência, nem na minha

inconstância, nem na minha preocupação, nem naquilo que eu sinto

agora. Não mora em mim aquele das vogas que desperta os suspiros,

e como suspiram as meninas. E como elas viram, olham, percebem.

Cada gesto, uma beleza. Não me contenho e distribuo sorrisos. E como

é bonito recebê-lo de volta. O rosto se abre como uma flor,

e revela, de novo, beleza. Pelo menos, posso vê-la claramente,

como poucos. Estariam loucos, cegos ou o quê? Talvez até seja um clichê,

e me tomo por sensível. Nem em tudo vejo beleza. Até vejo

em meu raciocínio.

Chega de lamentações e de murmúrios ao sexo oposto. Será amor demais?

Será egoísmo demais? Ou será, como diria um poeta maluquinho,

em sua tenra idade, coisa de poeta “tão chulo”?

Talvez seja delírio de pseudoeta embriagado, embargado no peito

e sem jeito de chorar e de gritar “mundo cão, me aceita!”.