Ela, ou estou ficando louco?

No quarto ao lado dorme, inocente.

E não sente o que eu sinto.

O véu a encobre dos meus olhos,

e a sentença se interpõe entre eles e ela.

Uma parede de timidez me impede

e não tenho a chave da porta.

A porta está lacrada à minha entrada.

Não sou pessoal autorizado.

Nem a entrada está aberta ainda.

Nem eu abrirei.

Nem ela deixaria. Ou deixaria?

Riria? Desdenharia? Ou se insinua?

O que me lembra – nua – e não posso lembrar.

Ela dorme no quarto ao lado.

Ela dorme protegida. E isso é bom.

Isso a livra. Isso me livra. Isso me alivia.

Isso me impede de, ao menos, tentar.

Não vou tentar é nunca.

O que me lembra – nuca – e não posso lembrar.

Ela sonha com algum príncipe.

Ela sonha abastecida pelos hormônios.

Ela sonha ensandecida. E isso é bom.

Isso a invita. Isso me invita. Isso me trucida.

Isso me suscita a, pelo menos, imaginar.

Eu sempre vou imaginar.

O que me lembra... não posso dizer.

No quarto ao lado dorme, inocente...