Redoma

Independente de sua existência o sol brilha. Nela se vê o brilho do astro mas a luz não bate na pele de seu residente, cada vez mais anêmico e empalidecido, pensando estar saudável ao se expor ao fraco feixe de luz que rapidamente desaparece.

Na redoma a tristeza, a fraqueza, a dúvida... A inconstância em tentar quebrá-la. Uma martelada no primeiro dia, três no segundo, e no terceiro as marteladas no vidro grosso (que o próprio residente moldou) são trocadas por algumas horas de sono. Ou por filmes de romance. Ou por preguiça de pegar o martelo. Ou por medo de falhar de novo, quem sabe? A cada dia sem martelar o vidro, de forma impressionante, este se refaz, fazendo com que caiam alguns cacos.

Mas se estes machucam, e se a redoma é relativamente confortável por que tentar sair?

Existem tantas respostas... A vontade de ser aquecido pelo calor do sol, por exemplo. Também o desejo ardente de sentir a chuva lavando a alma de todo mal, e não só vê-la batendo no vidro e escorrendo. Deve-se tentar sair da redoma para viver o que nascemos para viver.

Mas a culpa por isso não acontecer não é do martelo, e muito menos do Sol (Ah, o Sol!), é do próprio residente, aquele que tem o livre arbítrio para lutar contra aquilo que o aprisiona ou continuar vivendo em uma cela confortável, na qual ainda existe saída.