O CIÚME

Ronda, o ciúme, a casa dos amantes...

Mexe na porta, espia pela janela,

pelos fundos procura, à todo instante,

como fosse um furo numa panela...

Lá dentro, por nuvens abraçados,

ressonam, felizes, enrodilhados,

dois corações em doce sintonia,

como versos de encantada poesia...

Mal nasce o dia, somem em suas labutas,

papéis, máquinas, dinheiro, planilhas,

as batidas do coração não se escuta:

será que somos, todos, ilhas?

A noite chega e taças vão brindar

a colheita feita quando o sol brilhava...

Emerge do mar escuro o ato de amar

e, junto, a sombra do ciúme chegava...

Os amigos bebem e se divertem

na casa dos dois belos amantes...

A porta aberta então esquecem,

o ciúme entra, esquivo, nesse instante...

Um olhar perdido encontra o outro,

tudo percebido por um dos namorados...

Algo acontece, alguém fica louco,

o ciúme ri, abraçado ao pecado...

O jogo do fim inicia seu movimento:

barulho de fogos e não de artificio...

A senhora de preto adentra o templo,

abre sua sacola e à recolha dá início...