Minha sede

Nem sei se o herói de filme de romance ou de comédia,

De mídia, escuto o som dos chorus, gemidos, arpejos,

Solos, sopros das sopranos, barítonos e tenores.

Das cores, vibrantes vermelhos e pastéis em alternância.

Das letras, desejos. Amores cantados, sentidos, amados,

mais uma vez sentidos, deixados de lado.

Sopetões de enamoramentos, paixões momentâneas,

encantamentos mil.

Sou assim, o ardil me pega fácil, fácil.

Sem poder ver beleza.

Amo as proezas das meninas.

As meninas são lindas quando lidas.

Meninas que se deixam lidas

e meninas que se fazem repentinas.

Aparecendo na fita da vida,

rolando sobre a sessão em que eu sou assistência.

Eu, sem insistência, apenas me permito.

Embora pouco. Muito pouco, pra ser sincero.

Sou pássaro preso em gaiola, e o meu canto é prisioneiro,

Primado do desejo, reinado de um rei sem feudo,

sem corte, sem mesuras. Minha postura, timidez,

na tez morena, nordestinamente aportuguesada,

Herdeira de senzalas e de engenhos de cana-de-açúcar.

Canto em tom menor quase todas as vezes.

Seja em revezes da fortuna, boa-sorte ou ruína,

Minha sina é cantar,

Desafinado ou em boa rima.

Endireitado ou pantomina.

Felicidade é por instantes.

É sorriso de menina a nós direcionado.

É arpejo de guitarra bem solado.

É gemido de violino orquestrado por maestria competente.

É gente em meio à multidão.

É lampejo de razão em meio à loucura.

É luzeiro de lanterna à escuridão.

Felicidade, vez sim, vez não.

Felicidade aqui em hora boa.

É proa de canoa atravessando o matupá,

Varagem da tapagem da lagoa pululante de peixes.

É ânimo após período de tristeza, preguiça, falta de produção.

Felicidade inominável, indecifrável, indefinível.

Felicidade indizível. Felicidade é alguém sorrindo pra mim.

É a musica linda, linda, repleta, arranjada.

Seja sempre aqui bem-chegada,

Aprumada. Feliz minha morada.