O mar e a madrugada

A madrugada se entregou ao mar, espraiou-se e sentiu-se naufragada.

Nada do que seu atual espraiar revela, demonstra sua antiga beleza,

Sua natureza brilhante, seu viver errante acertado,

Aprendiz e bem resolvido.

O dom de seu sorriso esconde na foto o que a alma revela.

A tristeza que desvela briga contra sua própria correnteza.

Luta contra a correnteza do mar. Maresia, banzeiro é fogo.

Incendeia.

E o embalar da canção recorda os anseios

que a madrugada antes sentia pelo mar.

Mar traiçoeiro, atraente, intempestivo.

Em um momento sem sentido, caiu-se mascara,

E a onda gigante cobriu a madrugada.

Penumbra bela do sereno escureceu.

Alma gemeu. Dor incendeu.

Mas, sinuosa, madrugada não desiste.

Ela incide, se espraia. Tem qualidades que o mar não sabe.

Renova-se a cada dia. É só a noite cair pra ela ressurgir,

Como fênix nas cinzas, como flor na primavera.

Ressurge madrugada. Teu naufrágio é só estada.

Não se entregue ao temporal.

Vendaval violento é estardalhaço.

Faz estrago, mas passa.

E há de estragar.

Algo do mar será ausência.

É algo que perderá.

Talvez, o espraiar da madrugada.