Sede.

Madrugada solidão.

Retratos na tela refletem o que já não estão.

Instantes de pessoas que já fizeram.

Pessoas que já não estão.

Apenas retratos.

E as pessoas fizeram algo.

Na madrugada, tudo que é presença reflete uma ausência.

Sinto a falta.

Sinto a falta do que foi feito.

Está apenas em um instante fotográfico.

O instante fotográfico é ausência do que a fotografia registra.

Procuro encontrar a presença e amenizar a solidão,

A sede que me consome,

Sede de vida.

Ah, como tenho sede.

Pensei que era cansaço.

Não é cansaço.

É sede.

Por isso não morro, não descanso, não me vicio em nada que entorpeça.

Quero a lucidez para sugar os instantes de vida, nacos de atenção, de carinho,

De risos, de ação que me dão para sair do marasmo dessa sede.

Ah, que sede.

Tenho sede e não há água que me sacie.