meu coração, coração.
Quando naquela manhã o coração balançou e se apertou entre dois sufocos, pensei que, olhando em frente, os azuis, os verdes e as pedras, eles seriam a derradeira oportunidade de quem vê e olha a vida, pela ultima vez.
Lembro aquele momento como se fosse uma despedida.
Sentida, triste, amargurada.
Nele e de forma fulminante, lembrei os que habitam, em mim, e fizeram o meu mundo.
As palavras que emergiram como sensação viva e permanente de chegar mais além, aos sentimentos perpetuados em cada gesto, em cada lembrança, foram como que um diluvio.
Como foram longos aqueles brevissimos momentos em que a respiração se cortou e a vida pareceu distante...
...E que recordações nos assaltam e tomam a respiração que nos falta...
Naquele instante lembrei tudo e todos, como se a metáfora do tempo fosse um mero passajar no instante amordaçado...
Aquela manhã foi terrível...
...E eu, num esforço titânico, olhando o espaço vazio que me rodeava, pensava em todos quantos não estando ali, poderiam, dando-me sua mão, dizer: Estamos aqui!
Quando, mais tarde, na marquesa da cirurgia, computadorizado por inumeros fios e visto por não sei quantos monitores, tudo se vi-a sobre meu coração, senti que os meus sentimentos estavam sendo profanados no recôndito dos meus segredos, só porque o deleite do fumo iludiu minhas expectativas, traindo o prazer e o meu bem estar.
Hoje, na distancia próxima, ficaram os dias de sobressalto, ficou esse pesadelo interrogativo de saber o que será depois.
Depois...agora, amanhã...
Essa indefinição arrogante, essa expectativa adiada de cada dia valer pelo que vale e cada sentimento continuar a ser o que é.
Afinal, ser o que sou.
A palavra de sobressalto, que brotando de mim, deixa o dia e a recordação de hoje na história do dia de amanhã...
João Videira Santos
Enviado por João Videira Santos em 23/11/2005
Reeditado em 23/11/2005
Código do texto: T75296