Solo para uma noite fria

Já era tarde e minha única companhia, era a lembrança da tua voz a acalentar minha solidão. Numa noite escura, iluminada por uma luz opaca, senti a dor de não sentir seu corpo quente, nem a tua pele macia. Triste e só, procurei inalar no ar vestígios da tua presença.

"Onde foi parar o teu cheiro?"

(Acho que seu perfume se perdeu na memória olfativa, ainda que o vento traga tua fragrância...)

Te quero, não nego, desejo cada ínfima parte do teu corpo num frenesi incontrolável.

Não é loucura o que me invade agora, mas a pulsão de amar, em um desejo perene por completude, de sentirmos nossos músculos vibrarem dentro de nossos ossos, de molharmos nossas peles no suor frio de nosso prazer.

"Será que o verei hoje em meus sonhos?"

(As imagens noturnas não podem acalmar minhas entranhas nesta cama vazia...)

Nem todas as lágrimas trariam você pra perto nesta hora, neste exílio do amor constante, no momento em que a escrita me acompanha, ao tilintar em meus ouvidos versos que não escreverei. Palavras mudas de significado e zumbidos dizem mais do que tudo o que poderia falar nesta noite.

Recosto meu ventre sobre a poltrona, como se pudesse contraindo-o punir-me de tamanha vontade! Viro, rolo, debruço-me entre livros e anotações, enquanto o sono não vem. Não encontro forças no horizonte, nesta vida semi-nômade, em que o teto sempre me é tirado quando a paixão já levou todo o meu chão.

Oh maldita solidão que me invade! Vá embora! Deus não permita que eu sinta tanta ausência neste meu leito coberto de pranto. Nesta madrugada fria nem o consolo da poesia pode me fazer feliz, pois só a imagem do teu sorriso poderá trazer paz a este ser que arde.

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 12/12/2007
Reeditado em 14/01/2008
Código do texto: T774924