Sobre leoas e lobas

Na natureza, uma leoa e uma loba em nada se assemelham. Não imaginamos um canino, em nenhuma circunstância, dividindo sua matilha com um felino. Mas, uma mulher que convive com lobos baixaria sua guarda diante da presença de uma leoa disposta a devorá-la? Não! Não esperamos isso de uma mulher selvagem, mas foi o que eu fiz. E por vezes, acordo no meio da noite assustada com a sensação das presas dela em minha jugular, atordoando meu coração e dilacerando o que ainda resta de mim.

Nossos mundos se cruzaram em um acidente do destino. Não era para ser. E se era, ainda não entendi o porquê. Quando olho as cicatrizes em meu peito lembro da dor. Essa mesma dor que eu julgava ser a prova do meu amor por ela. Como me permiti a isso?

Me afastei de todos meus sonhos e de tudo o que eu julgava ser, me submetendo ao modo de viver dela: uma leoa acorrentada que me atacava para se libertar de seus grilhões, domesticada e atirada ao entretenimento desse circo chamado vida. Minha sensibilidade diante dos tormentos que ela enfrentava não me deixou enxergar que me jogaram no picadeiro também e, no seu último rugido, fui machucada por suas garras e sangrando pedi ajuda à minha matilha. De início, não fui reconhecida. Rosnaram para mim! Mas, retornei a salvo ao convívio dos meus iguais.

Somente animais domésticos devem viver bem compartilhando suas diferenças. Uma leoa não é uma gatinha e uma loba não é uma cachorrinha. Eu sou uma mulher livre e uivo alto para ser reconhecida e aceita por quem eu sou e não pelo que esperam de mim.

Sou uma mulher que corre com lobos e minhas cicatrizes contam a história das batalhas que enfrentei. E nelas nunca lutei sozinha...

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 17/01/2025
Código do texto: T8243671
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