O VENDAVAL DA PAIXÃO

O vendaval cessou. E agora, parece que tudo ou quase tudo voltou ao seu lugar. A vida retoma seu ritmo normal. As pessoas retornam àquilo a que pertenciam. Talvez, estejam apenas fingindo que esqueceram o que aconteceu. Ou talvez, algumas até esqueceram de verdade. Mas, ficaram as marcas profundas por onde ele passou. Marcas que eu sei, que eu vejo, que eu sinto, que dentro de mim estarão sempre, até o fim de minha existência. Marcas que ainda hoje me fazem chorar, passar horas a fio com a solidão. Marcas que me feriram profundamente.

Sei que o esquecimento se faz presente e o passado não existe mais. E é tudo tão vago, tão remoto... No entanto, nas paredes da memória, cada instante desse vendaval foi gravado nos tantos quadros que estão vivos dentro de mim. Não posso, não consigo ou talvez, eu não queira esquecer o que houve. O melhor de minha vida poderia ter ido com ele. O que ficou são apenas fragmentos de um passado, que se perdeu para todo sempre. Uma época importante que ajudou-me a desenvolver certos conceitos e ideais, os quais não existiam antes que tudo aquilo começasse...

A sensação de novos desejos em mim começou como uma leve brisa numa tarde de verão. Suave, tranqüila... Mas, depois, foi ganhando força, movendo-se mais rápido e as coisas foram acontecendo depressa demais. Porém, eu não havia percebido que aos poucos eu era destruída. As emoções eram fortes demais e abafavam a voz da razão. Eu estava então, frente ao desconhecido e deixei-me levar por ele. E fui arrastada por ele...

Ele seguiu e eu fiquei. Parada no tempo e vivendo de imagens mortas, esquecidas; melancólica, absorta, tonta. Fraca... Fraca demais para me encontrar novamente no meu espaço e no meu tempo. Mais uma vez carente e a espera de um novo alguém, não um outro. Alguém que me aceite como sou e que me ajude a crescer, a reconstruir tudo o que sobrou-me. Alguém que deposite em mim a convicção de outrora. Aquela antiga certeza de querer e poder. Antes de tudo, alguém que me ensine o valor de todas as coisas, me ensine a respeitá-las, me ensine a amar. Só assim, construirei algo novo e duradouro, mais bonito que outrora, mais real e talvez, mais verdadeiro.

O tempo? Sou eu quem passa por ele. Por isso, ele me pertencerá enquanto eu viver. O resto? Com o esse mesmo tempo se ajeita. Até que outro vendaval venha...

16/01/1985
01h20min



MORGANA CANTARELLI
Enviado por MORGANA CANTARELLI em 01/02/2008
Reeditado em 06/07/2013
Código do texto: T842253
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