Sobrevivo

Sobrevivo à poeira que consome meus móveis,

que me sufoca,

que deixa minhas mãos ásperas.

Sobrevivo à chuva que me ilha em casa,

me deprime,

e me faz chorar.

Sobrevivo ao vento que embaralha meus pensamentos,

traz coisas que não me servem,

e me causa dor de cabeça com seu zunido.

Sobrevivo aos dias de sol que me abafam

e me fazem arder em solidão.

Sobrevivo aos comerciais da TV que tentam me persuadir,

que me fazem sentir desejo

e estouram meu orçamento.

Sobrevivo ao passado que me atormenta,

que me suga as energias,

que me entristece os pensamentos.

Sobrevivo ao presente que consome minhas orações,

que me afoga em esperanças,

e me atrai como doce e criança.

Sobrevivo aos dias solitários que entristecem,

em que é posssível perceber minhas mãos

sem outras para se entrelaçar,

e apenas de livros é possível ter a companhia.

Sobrevivo às lágrimas que desfiguram meu rosto,

que ferem meu coração,

que aguçam a minha paixão.

Sobrevivo à dor de não ter carinho,

à flor que nem tem espinho,

às armadilhas no caminho.

Sobrevivo aos abraços e apertos de mão

que me lembram minha solidão,

que me atiram ao chão.

Sobrevivo ao medo de descobrirem que sofro,

de gritar meu sentimento

que me acaba de ilusão.

Sobrevivo ao ócio

que me impede de agir.

Sobrevivo.