A ROSA SECA - microconto

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Aldrin era um homem sério, solitário, esquivo e ressabiado, em seus quarenta e dois anos de idade, tivera muitas decepções amorosas e uma delas Fernanda X, fechou a sete chaves o seu sofrido coração. 

Fernanda X, vou identificá-la assim, para resguardar seu atual estado civil, casada com um grande comerciante de pedras preciosas, dono  de uma das mais procuradas lojas de Nova York, ela conseguiu o que mais almejou na vida, riqueza, mas, seu coração permanecia em Zurique com Aldrin, o grande amor de sua vida, mas, ele era apenas um contador autônomo. Fernanda X abriu mão da emoção pelo brilho das pedras de Leandro Luiz, seu marido. Cada cabeça uma sentença, joias são frias e sua alma e corpo queriam o calor que já tivera com Adrin.

O conhecido Central Park, guardava a última lembrança de seu grande amor, uma rosa vermelha plantada junto a uma árvore centenária, toda segunda-feira Fernanda X a visitava, já passados cinco anos e inusitamente a rosa com suas pétalas, erecta permanecia. Com seu rubro desbotado e seca, sem criar raízes, apenas marcava seu espaço. Talvez como Fernanda X que não se reconhecia, saudosa, abrindo sorrisos práticos e sociais, cercada de uma aura de riqueza.

Sua chama se apagara quando se despedira de Aldrin no aeroporto de Zurique. Ainda se recordava daqueles olhos cheios de desespero, incapaz de entender porque ela estava partindo para ir viver com um milionário, que conhecera a menos de dois meses. Se envolvera nas promessas de luxo e riqueza, fazendo com que ela desprezasse, o maior amor de sua vida. A opção se tornara o seu casulo de ouro frio e brilhante, mas, o amor que parecia existir sequer desejo queria. Leandro Luiz gostava de exibí-la estonteante coberta de jóias, quase um mostruário com uma aliança que ardia no dedo anelar. Ao chegar dos encontros e eventos, um último drink e cada qual ia para o seu quarto, só palavras formais e um indefectível beijo na testa, até o próximo tedioso dia.

Ao final de Dezembro, farta daquela vida de luxo vazia, toma coragem e abandona Leandro Luiz, com um simples acordo entre advogados. Levou o mínimo, o que tinha de mais simples deixando para trás cada uma das joias que recebera, inclusive sua caríssima aliança. Vai ao Central Park antes do horário marcado e colhe a sua rosa seca, acomodando-a entre blusas de seda, não poderia deixar sua amiga para trás. Não se preocupou com Leandro Luiz, pois certamente logo, logo a substituíria nas molduras de jade, rapidamente um novo modelo para exibir arranjaria. Fernanda X não deixou saudade, apenas uma vaga aberta.

Ao desembarcar em Zurique, se hospeda em um hotel popular, toma um demorado banho, se veste com elegância, mas, de forma sóbria. Pega sua rosa seca, sai do hotel e caminhando umas poucas quadras, a replanta em uma simpática praça, quem sabe ambas criassem raízes, tudo dependeria de uma ansiada visita que faria. Atravessando a praça, se coloca em frente à casa de Aldrin, ainda era muito cedo e com certeza ele não havia despertado. Fernanda X com o coração aos pulos, aciona a campainha...dois minutos se passam e Aldrin abre a porta se deparando com o amor de sua vida em lágrimas, esboçando duas únicas palavras, ME PERDOA!

Na simpática praça uma solitária rosa seca, se rubra vigorosamente e crava suas raízes na terra...o perfume que exalava se espalhou pelo ar.



 * Imagem - Fonte - Google
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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 20/10/2020
Reeditado em 20/10/2020
Código do texto: T7091912
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