DECEPÇÃO

Há tempos eu sinto, todo o dia, em certos momentos, um não sei quê estranho a me provocar taquicardia, correr por minhas veias, por vezes gelando minha circulação sanguínea, por outras fazendo-a entrar em ebulição. Nesses momentos meu cérebro fica fervilhando, latejando, e sinto um aperto no peito, perco o ar e me vejo sufocando. Então, percebo que esse sentimento estranho é uma vontade louca, ferrenha, avassaladora de dar um grito. Um grito que abrindo as portas de minha razão, me trouxesse a paz que tanto procuro, o fim dessa sensação de cativeiro. E que nele eu pudesse libertar meu ser inteiro, lavar minha alma e finalmente, sentir-me saciada.

Hoje eu decidi que não iria mais ficar calada e sofrendo por esse desejo. Estava na hora de colocar um ponto final nisso.

Então, quando o senti a incomodar-me de novo, me preparei para libertá-lo. Atentamente, vi que ele sacudia as paredes de meu cérebro, onde ganhava uma força extra, pela minha decisão. Depois, cortando caminho pelas vias do coração, ele adentrava minha corrente sanguínea atravessava as fronteiras da sanidade e a bem da verdade, da minha loucura também. De repente, senti-o alcançar meu esôfago e trêmula fui me preparando para o grande momento. Eu suava frio, embora meu corpo inteiro queimasse. Minhas pernas tremiam tanto que eu mal podia me manter em pé...

Confesso que estava muito emocionada diante da possibilidade de finalmente sentir-me livre. Assim, tal uma desvairada fiquei ali parada... Meus olhos ardiam, a boca estava seca e o coração parecia que iria saltar de dentro de mim.

E ele vinha subindo, subindo... Até que por fim, entalou em minha garganta.

Tânia Regina Voigt
Enviado por Tânia Regina Voigt em 03/06/2009
Reeditado em 17/01/2015
Código do texto: T1630920
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