As mulheres da Rua do Fogo - Apresentação (2) - Tina




Cristina Eleonora 

          Pode alguém assim ser chamado? Por que esse nome tão pomposo para um bichinho enrugado e chorão? Porque eu assim o quis, dei a minha filha um nome poderoso porque desde que a vi compreendi que ela seria poderosa. Seus olhos cor de riacho brilharam na noite escura em que nasceu e iluminaram minha vida. Queriam que ela tivesse os nomes dos avós maternos. Maria e José. Maria José da Silva Sousa, foi o nome que escreveram no pedaço de papel arrancado de uma caderneta espiral, para que eu levasse ao cartório. Melhor chamá-la Sofonisba. Perdi o papel, falei, esqueci o nome que escreveram, por isso registrei qualquer um. Qualquer um, pois sim, nome escolhido com o coração. Por vingança a chamaram por Tina. Se a mãe resolveu chamá-la assim e também o fizeram todos os outros não foi culpa minha. Eu a chamei pelo nome que escolhi e assim a chamo até hoje, Cristina Eleonora de Souza (com z). Nome de raínha. Vê lá se eu iria registrar minha filha com nome escrito em folha de caderneta de Armazém? ( Depoimento de José Ulisses de Sousa - com s - o pai de Tina.

Poema publicado na Tribuna de Santa Clara em lugar de destaque. (adivinhem quem se apropriou desse texto e o enviou para a redação do jornal?)

Poema

Autora: Dra. Cristina Eleonora de Sousa.

Que eu devia ter nascido homem
só porque sei pensar
são murmúrios
de gente invejosa.

Não sou homem, sou mulher
E por sinal, poderosa.
Filha de meu pai, nasci sem mãe
e tenho  a eternidade a minha frente.

Daí talvez meus modos
um tanto quanto destemperados
que fazem os homens fracos
tremerem, com medo.

E eu os penduro todos nas paredes de minha sala.
São guardados como troféus.
Uma fila de homens coagidos
pelas ondas cerebrais que minha boca emite.

Envolvi meu corpo em couraças protetoras
como camadas de cebola reluzentes de ouro.
E, com um grito selvagem armai-me para a vida
sem precisar de lágrimas ou olhares de peixe morto.

Construí lanças sonoras que penetram fundo
pelas frestas das rochas do deserto
por onde escoam as águas refrescantes
saciando minha fonte de justiça.










(continua com o perfil de Diana)