CLUBE DA ESQUINA BOÊMIA

Vivo em uma cidade coberta de cultura com o fundo musical de um grupo que fez mais que história, foi e continua sendo exemplo de arte e vida, pois um exemplo jamais morre. Falo do que surgiu de melhor em termos de música brasileira nas Minas Gerais. O seu ponto de partida foi Belo Horizonte; o ponto de chegada foi a expansão das fronteiras para o Brasil e para o mundo.

Fazem parte deste ilustre grupo: Lô Borges, Fernando Brant, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Toninho Horta, Wagner Tiso, Nivaldo Ornelas e Milton Nascimento (Bituca). O grupo de amigos que ficou conhecido como Clube de Esquina, retrata como são os encontros em Belo Horizonte, juntam-se talentos nas esquinas da noite, a música, que muitas vezes é composta por amigos boêmios, que casualmente se revelam capazes de exprimir a mais bela música e poesia, que também criticam o governo como nos tempos da ditadura, que correm riscos para reacender a nossa cultura e expandir sensibilidade para o mundo.

A imaginação entre eles era um campo fértil que frutificava em canções que são sempre cantadas, despertando a emoção de quem as canta e de quem as ouvi, retratam o amor, a liberdade, o sofrimento, a dilaceração da alma humana, exprimem a verdade existente no sonho, mostrando que o medo de viver deve ser banido.

Orgulho-me de saber que o chão que piso é o mesmo que percorreram componentes do show-bizz, fruto de um Belo Horizonte que destaca-se em cultura e musicalidade, de esperanças, ainda que mórbidas, que se unem e se fortalecem vivificando o ser de todos os brasileiros que tiverem um pouco de sensibilidade.

As Minas Gerais produzem ouro, pois sua essência não se deteriora com o tempo e é valor universal, riqueza que se expande e enobrece os lares de sua população, que vive o desabrochar de uma rosa que perfuma os ares com a poesia presente em suas músicas, compostas e ouvidas em todo lugar e a qualquer hora, seja do dia ou da noite.

O objetivo do clube de esquina era apenas viver e expandir a alma que não podia ficar presa; os sentimentos tinham que ser extravasados nas músicas ainda que fossem tristes:

“Quem cala sobre teu corpo

consente na tua morte

talhada a ferro e fogo

na profundeza do corte

que a bala traçou no peito

quem cala morre contigo

mais morto estás agora.”

(Milton Nascimento, o Bituca e Ronaldo)

Eles sabiam muito bem que fazer música não era só falar de amor e que quando fosse preciso lutar, que se unissem pela democracia, não aceitando os moldes da ditadura, junto com outros músicos participaram da “passeata dos 100 mil”, Caetano Veloso era um deles, união das forças e vozes juntas, vivendo e contradizendo o sistema vigente na época extremamente repressivo. Pois triste é saber que não se podia ter liberdade de expressão. Quantos jornais na época foram fechados? E os que sobraram faziam propaganda para o governo, mostrando uma face do Brasil que era irreal, coberta de hipocrisia.

A ditadura caiu, o tempo passou, o clube fez de uma esquina história, política, música, poesia; elos de amizade fortes e sinceros, mostrando que a força proveniente da união de amigos com o objetivo de viver, traz à tona sonhos e desejos que ganham espaço para que se tornassem mais que simples mortais.

Procurei por muito tempo um exemplo marcante de vida em Belo Horizonte; retrato apenas: O Clube e a esquina de um passado presente, de um futuro que, apesar de ainda não ter chegado, está escrito em letras que jamais se apagarão, pois estão gravados na melodia permanente nos ouvidos, nos lábios e na mente de todos aqueles que um dia escutaram uma de suas canções.

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 07/06/2005
Reeditado em 07/06/2005
Código do texto: T22856