Fim de feira
Como sempre a couve e a alcachofra se estranham e trocam farpas:
- Eu sou de Bruxelas, queridaaa! - diz a couve, com pretensa superioridade – E você, esquisitinha, é de onde?
A alcachofra, rosna um palavrão e até roxa de raiva fica.
O repolho, tímido e gordo, quieto em seu canto bufa e resmunga:
- Ah, essas duas... Uma hora dessas eu explodo...
O tomate cora e todo vermelho fica com as piadas de
duplo sentido do aipim.
- Cá pra mim, esses dois ainda vão acabar juntos...
Cochicha a ameixa fofoqueira pra mexerica mexeriqueira.
A pimenta, ardida como ela mesma, avisa:
- Turminha besta, espero que comigo ninguém se meta.
- Ai de mim... - diz o nabo - Por essa cebola eu choro que até me acabo... Mas ela ama mesmo é a batata.
O alho, entredentes, exercita seu passatempo favorito: fazer trcadalhos do carilho.
O limão, azedo, como sempre de mau humor, não esboça
um mínimo sorriso.
- Como pode tanto azedume, num sujeito até bonito?
Pensa com ares de queixume, a sempre doce cereja.
O abacaxi, observa tudo e ri:
- Calma, Dona Laranja! Com paciência e jeito, tudo se arranja.
E nesse burburinho todo, nesse diz-que-diz danado, nem
percebem que já quase chega ao fim a feira.
Daqui a pouco é hora da xepa.
...
= Roberto Coradini {bp} =
29/09/2012