Nunca é Cedo

Olívia sempre fora dedicada e bastante inteligente, provavelmente teria um ótimo futuro pela frente, mas jamais comprovaria isso, pois estava morrendo. Lembrava-se perfeitamente do dia em que recebera sua sentença de morte.

O vento soprava com força, as folhas das arvores apresentavam um tom de ferrugem, e Olívia não conseguia definir se fazia frio ou calor, era um típico dia de outono. Estava indo ao médico para lhe entregar os resultados dos exames que havia feito. Os mesmo que fazia todos os anos, só para checar se estava tudo bem. Porém, desta vez, os resultados não foram os mesmos. Olívia estava com câncer, na fase terminal, e nada poderia ser feito.

Chegou a sua casa e correu para o sótão, que de certa forma era um refúgio para ela. Chorou durante horas e só parou ao ver, meio escondida e coberta de poeira, uma caixa que pertencera a ela quando criança. Segurou-a junto de si e levou para seu quarto.

Era uma bela caixa, cor-de-rosa com detalhes dourados, e estava trancada. Olívia, no primeiro momento, nem a dera muita atenção. Mas à noite, ao perceber que não conseguia dormir, se descobriu tentando lembrar de qualquer maneira onde poderia estar sua chave. Ela não sabia qual o motivo, mas queria muito descobrir o que tinha dentro da caixa, quais seus segredos, suas surpresas, e por que ela era tão importante para ter sido guardada no sótão.

Tentou abri-la com grampos de cabelo, usando outras chaves e até com um cartão de crédito, mas não tinha jeito. Olívia ficou obcecada, embora soubesse que não era um grande mistério, queria muito desvendá-lo. Não lhe agradava a ideia de morrer com a curiosidade de saber o que havia dentro da caixa, sentia que precisava descobrir. Isso se tornara importante para ela. Mas nos dias que se seguiram, Olívia se convenceu de que era bobagem querer abrir a caixa, pois ela fora de sua época de criança, então era muito provável que a chave estivesse perdida e jamais fosse encontrada.

Até que, quando estava arrumando seu quarto em um dia comum, ela encontrou um envelope grudado embaixo de sua cama. Olívia lembrou-se de tê-lo colocado lá quando criança. Dentro dele, havia uma chave, e no momento em que a viu, recordou-se de que era a chave da caixa que encontrou. E aquela não era uma caixa qualquer, era sua "caixa de sonhos". Correu para abri-la, e dentro dela, exatamente como recordava, estavam os cartões postais de diferentes lugares, que simbolizavam o grande sonho de Olívia de viajar e conhecer o mundo.

Sonho que ela não tinha realizado. Havia deixado para depois, sem saber que o depois, jamais viria. O que a fez pensar que não era certo morrer tendo aproveitado absolutamente nada da vida. E foi então que descobriu porque era tão importante saber o que havia dentro da caixa. Ela precisava saber, para poder aproveitar o resto da vida que lhe restava, e para que pudesse morrer sem arrependimentos. E foi exatamente o que Olívia fez. Ela tinha total consciência de que poderia morrer no avião, ou em qualquer para onde fosse, mas não tinha medo algum, precisava e queria muito arriscar. Valeria muito à pena se desse tudo certo, aliás, valeria mesmo se não desse.

Olívia viajou e conheceu diversos lugares, e comprou um cartão postal de cada um deles para colocar na caixa, simbolizando os sonhos realizados. Não conseguia lembrar-se de algum momento em que se sentisse mais completa, feliz e principalmente viva. Estava muito orgulhosa de si mesma por poder dizer que não apenas existiu, ela viveu. Fez sua curta vida valer à pena. E morrera em paz, sem arrependimentos. Mas, antes de partir, deixou um bilhete para os que continuavam vivendo: "Acredito que muitos de vocês, sejam como eu fui algum tempo atrás, Costumava deixar tudo para depois, para fazer no futuro. Sem saber nem imaginar, que o depois, jamais existiria. Tudo bem que não temos o poder de adiantar ou prolongar as coisas, mas nós temos o poder de fazê-las acontecer. Você tem de agir ao invés de ficar só na ilusão, na vontade. Muitos dizem que nunca é tarde demais, mas às vezes, é sim tarde. Prefiro dizer que nunca é cedo demais. Nunca será cedo para se realizar um sonho, para aproveitar a vida e para consertar um erro. Nunca é cedo para se viver de verdade. O futuro é incerto, não pode ser moldado, e pode nunca chegar!".

Milena Farias
Enviado por Milena Farias em 12/02/2013
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