O Tema e a Musa (EC)

Tema é expressão de vários usos. Há o tema para casa, que o aluno deverá desenvolver em casa para apresentar na escola; o mesmo que dever de casa. O tema musical do par romântico da novela ou filme. Neste caso, o mais famoso talvez seja o tema de Lara do filme Doutor Jivago, a julgar pelo número de repetições que aparece no sistema de busca da internet. Há ainda a utilização como verbo, como na expressão: não tema o mal! Por fim, significando o assunto do que existe ou se deve desenvolver como filme, exposição de arte, livro, redação.

Por falar em redação, grande parte da dor de cabeça dos vestibulandos é justamente o tema que será exigido na prova de redação, que lhes dará acesso para o mundo universitário. É certo que escrever é ato derivado da leitura e do conhecimento geral, mas não basta juntar palavras, formar ideias e emaranhá-las para atender o número mínimo de linhas. Fora dos concursos, onde somos surpreendidos com o assunto, normalmente se sabe com antecedência qual o tema a ser desenvolvido. Ainda que desconhecido, teremos algum tempo para pesquisar.

Quando conhecido, ainda que não seja de nosso domínio, algumas ideias vão surgindo a respeito do tema proposto. Para escrever poemas, uma vez me foi sugerido que anotasse cinquenta palavras relacionadas à infância e adolescência e que eu coletasse aquelas mais repetidas durante a fala cotidiana. Não me lembro de ter feito isto, mas vim a observar na própria escrita a maior repetição de algumas palavras. Nos exercícios com tema prévio, algumas ideias podem surgir quase completas como uma fotografia, outras vêm como um negativo onde tentamos advinhar de quem é o vulto. Pode ocorrer também que a falta de ideia reine e se mantenha branca como uma rainha no deserto nevado.

Congelados diante da tela com prazo prestes a se esgotar apelamos, normalmente, por uma das seguintes alternativas:
a) ver como nos arranjamos com a pesquisa na internet;
b) baixar a cabeça com a mão apoiando a testa a espera de um milagre;
c) sair escrevendo tudo que vier à mente para depois cortar uma coisa daqui, outra dali e ao final ficar com um punhado de palavras;
d) fazer de conta que não é conosco e ficar de fora do tema chato;
e) misturar todas as alternativas em um liquidificador, atirar para cima. Aquela que primeiro cair será a escolhida.

Neste momento não estamos mais nas mãos do tema, mas nas asas da musa, a tal inspiração! Então o que falar quando o assunto para a escrita é o próprio tema? Recorrendo ao Dr. Google se encontra definição de "mano" até tese universitária a respeito, que não vem ao caso aqui reproduzir. Lembro-me de que, em entrevista, Walter Salles chamou atenção para o tema do filme Central do Brasil. Todo filme, livro, história tem um tema, que no caso do filme do diretor brasileiro era a amizade. De minha parte, quanto mais simples a história, mais tocante. Reconheço que há recursos visuais ou estilísticos que muito enriquecem a obra, mas invejo quem consegue se expressar com a requintada arte da simplicidade.

Afinal o que seria a inspiração da escritura? Desprezando as lições do Dr. Google, fico com o significado fisiológico da palavra. Inspirar: captar
pelo sistema respiratório o ar do exterior para dentro dos pulmões da gente, daí espalhando por todo o corpo até devolver novamente ao exterior pela expiração. Assim relacionados o Tema e a Inspiração, esta nada mais seria que o objeto da vida do qual extraímos uma direção. Afinal, sendo nós por excelência frutos do meio buscamos sempre inspiração na vida, mesmo quando se fala de morte, que aqui representa o ponto final.



Este texto faz parte do Exercício Criativo O TEMA E A MUSA
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http://encantodasletras.50webs.com/otemaeamusa.htm