A ESCOLA DO MEU TEMPO

Quando fui convidado para falar sobre minha infância escolar, àquela turma mirim, não esperava passar por minutos tão agradáveis, quanto salutares e inesquecíveis.

Era a Semana dos Idosos e, como um dos avôs convidados, tinha por incumbência dar uma rápida pincelada sobre o tema “Como Era a Escola na minha Época”.

Igualmente às inúmeras escolas da época, a minha situava-se adaptada na sala da casa da única professora do bairro: Cecília, a simpática “professora preta” apesar de austera. Uma espécie de exceção á regra para a época.

Escola sem divisão de classes. No caso uma única professora dando aula de várias matérias primárias a várias classes numa mesma sala.

O transeunte sabia ser uma escola principalmente pelo barulho das várias classes soletrando suas respectivas matérias.

Não existia ainda a caneta descartável, mas caneta tinteiro. Para isso a professora cuidava em ter um frasco de tinta onde eram recarregadas as canetas dos alunos. O problema, aqui, era manter as fardas dos pupilos em “ar puro” de uniforme.

Extremamente diferente desse meu “reencontro” como avô.

Um raríssimo encontro de gerações não extraclasses.

De um lado os pequeninos ávidos por se reportar, na figura de seus respectivos avôs, a uma época anterior; do outro, cada avô (ou avó) tentando açambarcar essa nova era dos pequeninos.

Diz-se que a tendência dos filhos é não se identificar com os pais. Talvez seja esta uma das razões de tanta similaridade de netos com seus respectivos avôs.

Qualquer que seja o motivo, obviamente a criançada, na sua eterna curiosidade, fez também daquele pequenino momento uma baita festa. Principalmente quando frisei que “no meu tempo em que eu era como vocês” não havia sanitário na minha escola, mas se fazia o “descarrego” necessariamente no mato. Mais precisamente entre os cabuins e muricis típicos da capoeira do lugar.

Para evitar dissabores e constrangimentos quanto ao ir e vir da alunada em relação ao atípico sanitário, que marcou época naquelas paragens, Dona Cecília dispunha de dois montinhos de seixos: Um pintado de rosa, representando as meninas; outro azul, representando os meninos.

Quando um menino, por exemplo, estava “se apertando” a professora somente entregava uma pedra azul, como permissão para ir ao “quartinho” (referido lugar onde se fazia a evacuação), se o número de pedras rosa estivesse completo. Indicativo de não haver nenhuma menina na capoeira. Tal prática tanto manteria o controle da turminha quanto evitaria maiores problemas. Mesmo assim já tinha havido caso de aluno ter trazido, de casa, pedra previamente pintada de rosa e a depositado sorrateiramente entre as outras, para que a desconfiada professora não desse na telha na hora da contagem. Tudo em despeito à palmatória que havia para esses desavisados.

Em relação a tal palmatória, a história é mais longa para se contar...

Edmilson N Soares
Enviado por Edmilson N Soares em 17/08/2016
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