Semiose Poética
O instante é inapreensível e irreptível. É tudo que passa, mas permanece, na tradução que dele fazemos através da arte. Essa é a proposta do Semiose Poética. Traduzir em palavras a poesia já traduzida na fotografia de Marcão Melo. Se a fotografia é arte de fixar o momento a poesia/literatura, cumpre a função de eternizar a efemeridade das coisas através da palavra.
A fotografia, somada a poesia, pode recontar o momento. A palavra, amparada na imagem, recria o instante. Unidas essas linguagens conseguem revelar a beleza existente no que aparentemente é apenas dor, sofrimento, seca, desesperança, morte, destruição, etc. Elas, a literatura e a fotografia, pintam a crueza dos cenários com leveza. Colocam luz na escuridão.
Durante a construção desse livro foram muitos os momentos de imersão nesse fantástico mundo da fotografia. Traduzir as mensagens fragmentadas nas fotos escolhidas era sempre uma tentativa de explicar o momento fisgado pela lente do fotógrafo. E assim como na fotografia há a espera pelo clique perfeito, na escrita há o silêncio, o momento de espera, a frustração diante da recusa da palavra em traduzir a imagem escolhida.
Otávio Paz diz que “a poesia é algo que nos entra pelos olhos e não pelos ouvidos”. O Semiose Poética reúne os dois elementos e tenta comunicar o mundo sertanejo em toda sua intensidade, na ação imediata e precisa dos cliques fotográficos que desenham o momento e nos faz meditar sobre nossa condição humana e na escrita que busca a ressignificação do que nos é apresentado pela fotografia. A tentativa de redimensionar o objeto, tirá-lo de seu contexto e associá-lo com nossas visões interiores, nossas memórias e experiências foi, sem dúvida, uma rica experiência.
Vale lembrar que Semiose Poética não é um livro ilustrado, mas a junção dessas duas formas de linguagens, aparentemente tão diferentes, em busca de um significado para o registro do tempo.
Fotografia tirada ontem durante o lançamento. Da esquerda para direita: Marcão Melo (o fotógrafo), Jane Menezes, Welma Menezes, Clauder Arcanjo, Eu e Raí Lopes
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