SER FAMÍLIA

Ciências humanas e sociais, além das biológicas, trabalham pela compreensão da concepção de família. Estudos antropológicos datam, nos primórdios da humanidade, uma latente necessidade de clãs (grupos formados em prol da sobrevivência), embora não houvesse significação de família. Na Bíblia Sagrada, precisamente no Antigo Testamento, ao ler-se a história do povo hebreu, percebe-se a predominância do patriarcalismo e evidentes estereótipos de gênero, estabelecendo evidente aversão a Jesus de Nazaré (figura central do Novo Testamento, também livro da Bíblia) que afirma pertencer a sua família, necessária e indiscutivelmente, todos os que fazem a vontade da sua divindade (contrariando raízes biológicas/genéticas e preconceitos diversos como de gênero, classe e raça).

Na Idade Média, com a centralização do poder pela Igreja Católica de Roma, o sexo passa por uma mudança concepcionista, tornando-se abençoado apenas para fins reprodutivos. No Brasil, a concepção familiar sofre alteração ao passo que caminha para a Independência, sobretudo após o fim do Regime de Padroado (que era caracterizado pela evidente e insistente influência católica). No período escravocrata, observa-se a realidade de famílias nucleares, com contextos patriarcais e extraconjugais.

Tratando-se de mundo dinâmico, a concepção de família sofre alteração na Revolução Industrial com a ocupação do mercado de trabalho pela mulher e, consequentemente, com o amplo questionamento de gênero; e na Revolução Sexual da metade do século XX, quando Hollywood investe na sensualidade e sexualidade femininas.

Atualmente, a questão homoafetiva clama por revisão do 'ser família', contrariando pressupostos tradicionais religiosos. A união civil homoafetiva, oficializada em 2013, sugere abertura frente ao tema e espaço para diálogo. Em contrapartida, setores conservadores trabalham pela proibição da adoção por parte de casais gays, contrariando a Constituição de 1988, que prega garantir a liberdade a cada indivíduo, desde que o mesmo não descumpra com seus deveres civis e legislativos.

Ao passo que se luta por igualdade, percebe-se que o conceito de família remonta ao espaço sócio-cultural que o indivíduo vive e, por isso, faz parte. A concepção do núcleo familiar, ao longo da história, assume caráter de cunhos machista, misógino, racista, econômico e classista. E, ao passo que um povo luta por esclarecimento em torno da humanidade, na quebra por preconceitos, a família passa a assumir valores de cunho fraternal, que englobam a essência dos seres, não tão somente seus aspectos físicos.

Sendo família fruto social, induz-se crer que concepções em torno de familiaridade refletem, necessariamente, realidades sociais e seus tramas sucessivos. Solução cabível para a dita concepção familiar sugere afinidade de sintonia, de forma que o esclarecimento se faz necessário para que o respeito pela diferença se estabeleça. Caminhando para a quebra de preconceitos, a família assume fórmula de essência que transcende os povos.

(20/09/2017)

*Reprodução imprópria sujeita a penalização. LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.

Breno Targino
Enviado por Breno Targino em 15/01/2018
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