"Que tiro foi esse?"

Circulam nas redes sociais de modo geral críticas pesadas em relação ao funck “Que tiro foi esse” de Jojo Toddynho. A visão que se quer passar é a de que a letra da música, além de ser pobre de conteúdo, faz apologia ao crime. Uma reflexão mais profunda poderia desconstruir tal visão.

Acredito que as belas canções que relatam o amor, a paixão e a vida bucólica devam ser destaques na mídia, mas não se pode dizimar a expressão artistico-cultural de um povo. O Rio de Janeiro é um estado que está imerso na tráfico onde tiroteios são constantes. Logo, não há como fazer registro de tal fato.

Situações dessa natureza são debatidas nos lares, na vizinhança, na escola e no trabalho dos fluminenses. Dessa forma, o contato com um determinado objeto ou evento e a frequência elevada de um assunto possibilita a criação de novas expressões linguísticas.

"Que tiro foi esse" é mais uma metáfora da língua portuguesa. Em seu real sentido, faz alusão ao contexto de falta de segurança pública em que vive o estado do Rio de Janeiro; e no sentido figurado, mais precisamente no interior da comunidade LGBT, representa um escândalo, um arraso, algo que encanta. Não vejo apologia ao crime nessa expressão, pois se pensarmos dessa forma, precisaremos eliminar uma série de outras expressões linguísticas metafóricas que poderiam também esbarrar na questão da apologia ao crime, tais como: mata (para eliminar alguém de um jogo), destrói (quando se está assistindo a uma luta ou a um jogo de futebol), humilha (quando se está em contexto de concorrência), enfim... tantas outras expressões que também poderiam ser dizimadas, mas não as são porque a língua é dinâmica e está a serviço de seus falantes.

Robson Rua
Enviado por Robson Rua em 20/02/2018
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