Uma chaga social chamada desemprego

A Campanha da Fraternidade – CF – 1999 inquieta a sociedade civil para um dos maiores problemas do momento: o desemprego. É dirigida pela Igreja Católica do Brasil a cada ano, no período quaresmal que vai da quarta-feira de cinzas a semana santa. No lançamento, o Papa João Paulo II fez pronunciamento chamando para esse desafio. Em Cuiabá, aconteceu uma procissão saindo da Igreja Bom Despacho em direção à Catedral Metropolitana de Cuiabá, onde o arcebispo D. Bonifácio Piccinini fez seu pronunciamento em defesa da vida.

A fraternidade e o desemprego é o tema deste ano. A Igreja quer levantar a poeira da realidade econômica do país, segundo o texto-base da CF 99. As campanhas de 78 e 91, “Trabalho e Justiça para todos” e “Solidários na dignidade do trabalho” trouxeram o tema do trabalho. Mas agora, a tônica recai na interrogação ‘Sem trabalho... por quê?’ Isto porque a sociedade está vivendo uma época de desemprego estrutural. As pessoas estão desempregadas porque não encontram um emprego e não porque estão procurando algo melhor. Afirma do texto-base.

Desde 1964, a Igreja realiza campanhas da fraternidade propondo temas que ajudem a Igreja e a sociedade civil a se posicionar diante dos grandes problemas que o país enfrenta. Logo no início, as campanhas retratavam mais a vida interna da Igreja, mas a partir de 73, dão nova guinada. Nessa fase, a Igreja atua como denúncia do pecado pessoal e social e a promover a justiça para se criar a fraternidade. Ainda de acordo com os documentos da Igreja, os fiéis se sentem mobilizados a realizar algo em pról dos irmãos mais necessitados.

Em 1985, teve nova reestruturação trazendo temas mais polêmicos, como a fome, a terra, o menor, o negro, a comunicação, a mulher, o trabalho, a juventude, a moradia, a família, o excluído, a prisão, a educação. E agora, o desemprego. Essas campanhas acentuou a participação dos leigos na Igreja através dos inúmeros grupos surgidos, nessa época, em todas as comunidades e paróquias da Igreja. Esses grupos de debate lutam por uma sociedade justa e digna, onde todos tenham o necessário para viver bem. Relata o documento.

No entanto, em Cuiabá, não se percebe tanto as mudanças, segundo depoimento da funcionária pública, Rosária de Fátima Miranda. Ela questionou a equipe diocesana da CF e obteve como resposta, que a Igreja só alerta os fiéis e políticos para a realidade do país. Então, ela se questiona ‘ e se os políticos não estão preocupados em observar a questão. Como fica?’ Para ela, a CF é importante porque abre os olhos das pessoas para a solidariedade com o mais excluído da sociedade neoliberal mas precisa investir mais em dados concretos e relatá-los.

Segundo a teóloga e irmã salesiana, Francisca Gomes de Santana, o tema deste ano, quer proporcionar à pessoa, à família e à comunidade, uma vida digna. E ao mesmo tempo, dizer aos desempregados que eles têm direito de lutar para que haja mais justiça e trabalho. E ainda, “dizer aos cristãos que não podem ficar alheios a estes problemas sérios pelos quais passa a sociedade. Por isso, devem construir juntos uma campanha por emprego e mais valor.” O desemprego estrutural provocou o desemprego de muita gente. Também em Mato Grosso.

O padre da paróquia N.S. da Guia Fortunato Fávero afirma, em sua paróquia, estão detectando as causas e tomando conhecimento da realidade. Os leigos estão participando das reuniões, debates e encontros nas famílias em busca de alternativas. Passam noites sem dormir pensando em como vão sobreviver, sem meios, sem saúde, sem apoio. Por isso, Ir. Francisca acredita ser importante a sensibilização que pode trazer alternativas solidárias de trabalho para todos. Parafraseando um amigo, diz “o desemprego não é só falta de trabalho mas de governo, também.’

Segundo estatística do jornal A Gazeta, há um índice de 70% de desemprego na faixa etária de 20 a 35 anos, em Mato Grosso. A Campanha da Fraternidade pretende ajudar a sociedade civil a tomar consciência de que as mudanças devem chegar, se preocupa Ir. Francisca. E mais, ‘ as mudanças econômicas e tecnológicas são uma faca de dois gumes. Por um lado, o país se projeta como país industrializado e por outro, as empresas despedem cada vez mais trabalhadores’. A Igreja em Cuiabá está confiante de alternativas surgirão em meio às reflexões.