CURUMIM DIZ OI

Me lembro bem daquele dia em que pajé anunciou algo estranho

chegando bem proximo de taba. Lá perto do maranhão, mas nem tão longe do morumbi vimos ubá, era um ubá bem diferente do dos nossos. Era grande e reforçado, longo e de madeira. A ubá chegou em terra firme, todos já com suas burdunas preparadas, porém sem atacar.

Eram cari, homens de pele branca. Usavam um adorno, um traje meio pitanga e ajubá. Chegaram dizendo algo estranho, prometiam, se me lembro bem, algo na qual seria a paz. Deixamos eles entrarem, comerem de nossas coleitas, fizemos pequenas bibocas para se aconchegarem, mas a cada dia que se passava mais e mais

cari chegavam. Começaram a caçar, sair sozinhos e falarem de modo estranho. Carregavam com si livros com alguns síbolos, e quando menos esperassemos já estavamos em desvantagem, foi o que eu disse, mas pajé recusou acreditar.

Passaram noites e dias e de tal modo o que eu disse aconteceu, mas não do jeito certo que imaginei. Bom, não estavamos em desvantagem, não isso não, porém tinham coisas que valiam apena trocar e

conhecer. Vimos livros, trajes em ajubá e pitanga, vimos capanga de couro, ubás grandes e variadas, coisas que não se tinha ali. Nos deram

kataioba, outras vestes que variavam de suas cores simples, e nos ensinaram que as vezes ser guerreiro é mentir para sobreviver.

Começou a chover e eles nos botaram em algum tipo de casinha mal feita, rebuscada, ou melhor dizendo, uma casinha diferente. Começaram a nos ensinar coisas novas. Letras novas. Simbolos novos. E

conforme o tempo começamos a nos acostumar. Mas depois de um período começaram a nos prender, usar, proibir,

escravizar. Não podiamos sair, comer, pescar, caçar. Podiamos fazer o que eles mandassem, e pronto! Achamos em um lugar

qualquer um buraco pequenininho que dava pra escapar. Alguns ficaram. Alguns conseguiram. Alguns morreram. Alguns sobreviveram.

Anos passaram, e de índios foram para negros. E de gritos foram pra chicotadas. E de escravidão de uma raça, foram

pra exterminação de famílias. Não é bem assim que se imagina um mundo limpo, mas oque é um mundo limpo? Os tempos passaram,

as mentes evoluíram, mas as atitudes regrediram.

by: Historias da mata

histórias da mata
Enviado por histórias da mata em 17/08/2018
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