Minha Infância
Caçula de cinco filhos, pais dignos e amorosos que, apesar de alguns contratempos, permaneceram juntos, cuidando e educando com muito amor e dedicação de meus irmãos e eu.
Enfrentamos muitas dificuldades, mas continuamos sempre unidos: nas alegrias, tristezas, farturas e principalmente nos longos dias e noites sombrias que tivemos que dormir com os estômagos vazios. Só Deus conhece as humilhações que meus pais enfrentaram para nos dar um pouco de alimento.
Eu não tinha roupas e nem sapatos de marca (a maioria das minhas vestimentas vinha de doações), praticamente não tinha brinquedos; o material escolar era cedido pela escola; enquanto os meus amigos tinham cadernos de capa dura, coloridos e temáticos, os meus eram de capa mole encapados com jornal ou papel pardo, no entanto, estudava com amor, dedicava-me ao aprendizado e almejava tirar notas boas. Às vezes, comia apenas arroz com feijão no almoço e ao chegar na escola, graças a Deus, tinha um lanchinho na entrada, depois a merenda e o lanche antes de ir embora...
Recordo-me que no início do segundo ano primário, o meu estojo era uma capinha de guarda-chuva; uma amiguinha, sensibilizada, ofereceu-me o seu estojo do ano anterior; aquele gesto, aparentemente tão simples, marcou-me profundamente. Quem dera tivéssemos a pureza da bondade do coração de uma criança.
Ainda que a minha família e eu tenhamos passado por vários episódios de dificuldades, éramos felizes, pois tínhamos e ainda hoje temos a graça e as misericórdias de Deus que sempre esteve conosco. Agradeço a Deus pela família maravilhosa que Ele me concedeu, pois mesmo diante de tantos problemas, o amor que nos unia, prevaleceu e se multiplicou.