Quando o povo é a minoria

QUANDO O POVO É A MINORIA
Miguel Carqueija


Há um filme da apreciada dupla Oliver Hardy & Stan Laurel (O Gordo e o Magro), “Utopia”, de 1950, com uma cena deliciosa em seu simbolismo de fundo político. O Gordo herdara uma ilha no meio do oceano e para lá se dirige, levando o Magro. No trajeto juntam-se à dupla dois homens e uma mulher. Ao chegar lá Oliver resolve, sem mais nem menos, autoproclamar-se governante da ilha, transformando-a num novo país. Passa então a instalar o seu “gabinete” criando três ministérios, para os dois homens e a mulher supracitados. Sentindo-se esquecido, o Magro protesta: “E eu, Oliver? Não vou ter uma função?” E o Gordo responde, mais ou menos assim: “É claro, Stanley! Você vai ter uma função muito importante! Você será o povo!”
Prezados leitores e leitoras ou, como dizia certo maranhense de problemática fama, “brasileiras e brasileiros”: nunca lhes pareceu que, a exemplo dessa história, nós, sendo povo, somos tratados pelos nossos governantes como se fôssemos a minoria e eles sim, a maioria que é preferencialmente atendida?


NOTA: este texto foi publicado em 16 de maio de 2002 no boletim informativo "Curto & fino" editado por Iacilton Barreto Mattos no Rio de Janeiro.