Otakus, mangás e animês

OTAKUS, MANGÁS E ANIMÊS

Miguel Carqueija

Otakus, para quem não sabe, é apelido dado aos fãs de quadrinhos japoneses (mangás) e desenhos animados japoneses (animês).

No Brasil, infelizmente, por causa de séries que aqui foram muito divulgada, ficou em boa parte do público a impresão de que desenho japonês é coisa tosca e cheia de brutalidade. É a síndrome dos Cavaleiros do Zodíaco (no original Saint Seya, o título no Brasil é errôneo porque os personagens principais não são ligados a constelações do Zodìaco mas a outras como Cisne). Mas acontece que existem muitas linhas na animação japonesa, havendo mesmo seriados de grande perfeição e beleza gráficas. E entre as diversas linhas (existem até mangás e animês de esporte) destacam-se as linhas shojo ou shoujo (com meninas como protagonistas) e shonen (com meninos ou personagens masculinos) e até uma mistura dos dois, como em Inuyasha.

Quando se começa a estudar o fenômeno deparamos com a afirmação de que os desenhos shonen são feitos para garotos, e a linha shojo é para garotas.

Será?

Existe até no shojo a subdivisão do maho shojo ou das meninas mágicas, tais como Sailor Moon, Mussumet, Mai Otome, Guerreiras Mágicas de Rayearth, Madoka Mágica, Ga-Rei.

O shojo é reconhecidamente mais literário que o shonen, e este frequentemente se perde em violências e monstruosidades, ódio e intolerância. Yu Yu Hakusho, Dragon Ball, Shurato, Cavaleiros do Zodíaco... no Yu Yu Hakusho só se salva praticamente a comicidade do Kuwagora, que acompanha o personagem principal mas é um herói todo atrapalhado.

No mangá e animê shojo, porém, predominam os sentimentos, a meiguice e generosidade das heroínas, e frases de sabedoria.

Mas por que, pergunto eu, um garoto — ou um adulto como eu, afinal não há idade para apreciar quadrinhos e desenhos — tem que gostar do shonen e não do shojo? Afinal, aprecio muito mais as heroínas que os heróis dessas séries. O Lobo Solitário, por exemplo, apesar de seu prestígio, não faz minha cabeça, suas histórias são muito duras. Já o nível de sentimento de Sailor Moon, por exemplo, me agrada muito. Ou então uma Kagura de Ga-Rei, que na mais terrível situação possível vai até o fim para conjurar o mal levada pelo seu coração, que ama sua inimiga pelo passado de amizade e se declara disposta a enfrentar o mundo para sustentar o seu “sonho imperdoável”, como ela o chama — o sonho de um mundo movido pelo amor.

Então não vejo motivo algum para preferir, por ser um otaku masculino, a linha dos Cavaleiros do Zodíaco e quejandos, sabendo que Cavaleiros do Zodíaco (assisti muitos episódios) é apenas um desfilar interminável de brigas violentíssimas com os adversários se insultando mutuamente, enquanto no shojo há amplo espaço para sentimentos (Sailor Moon é poderosíssima mas nem gosta de combater e nada tem de agressiva, é doce e sentimental) e, em muitas séries, perfeito senso de justiça da parte das heroínas.

Rio de Janeiro, 8 de junho de 2019.