QUE GERAÇÃO É ESSA?

O que é geração? Qual o sentido, o significado deste termo?

Bem, podemos dizer que a palavra geração, assim como muitas outras palavras tem sua origem no latim, e com muitos significados e usos. Mas, neste caso, definiremos a palavra, o termo geração, como o conjunto de pessoas que nasceram num mesmo período histórico, que receberam ensinamentos e estímulos culturais e sociais similares e, por conseguinte, têm gostos, comportamentos e interesses em comum.

Neste sentido, queremos tratar aqui de indivíduos que tem carregado em si uma carga cultural absorvida nas últimas décadas, desembocando em fatos e situações vistas atualmente em nossa sociedade.

Sobre mim, ou os estímulos e aprendizados da minha geração, posso dizer que os primeiros vieram da família. Desde muito pequeno na minha criação, ainda que marcada por diversos conflitos e traumas familiares, meus pais me ensinaram três princípios básicos para carregar para a vida toda, e que em certa medida me ajudaram a me tornar o que sou hoje. O primeiro foi o de nunca aceitar nada de um estranho na rua. O segundo, de sempre respeitar os mais velhos, sejam eles quem forem. E por último o de nunca pegar nada de ninguém, mesmo que a ideia já fosse o de “achado não roubado”.

No que se refere a minha geração, sobre as minhas vivencias, que as tive uma parte na infância e outra na adolescência, me recordo das brincadeiras com meus amigos num campo de futebol de areia fazendo pista de fórmula 1, Nossos carrinhos eram tampinhas de garrafa, e cada um tinha direito a apenas um toque com o dedo e nada mais. Nossa, quanta emoção vivi ali, com aquelas crianças como eu também o era.

E como esquecer da criação das pipas? Sim, quem tinha dinheiro às comprava, quem não o tinha as fabricava com varetas de bambu, plástico ou um papel que vinha embalando o pão da vendinha perto de casa, usando ainda cola feita de farinha e água ou mesmo a linha 10 da marca “corrente”, para as pipas feitas de plástico. Fora isso, haviam ainda tantas outras brincadeiras feitas nestas duas primeiras fases da minha vida que se fosse para descrevê-las aqui usaria páginas e mais páginas para fazê-lo.

Mas, voltando então ao enredo do texto, já começo a observar como vivemos em um mundo tão diferente e distante daqueles dias de céu azul, em que a criatividade, e as traquinagens de criança faziam parte inerente do desenvolvimento infantil. Observei recentemente um jovem adulto, próximo de mim, tentando ensinar uma criança de uns sete ou oito anos a rodar um pião. Evidentemente ambos não tinham nenhum, ou pouco conhecimento no traquejo com o brinquedo milenar, ainda que hoje ambos sejam ágeis e talentosos no trato com as novas tecnologias, pois as crianças de hoje, já nascem teclando, mas nós, em “nosso tempo", fazíamos aquilo com tanta destreza e habilidade que não precisávamos de nenhum adulto se metendo nas nossas coisas de crianças, ainda que víssemos muitos adultos próximos a nós, jogando bolinhas de gude ou mesmo empinando pipas .

Durante a minha adolescência falava-se na “geração coca-cola, o futuro da nação”. E quem não ouviu essa memorável canção de meados da década de 80, na voz de Renato Russo, uma música que embalou muitas festas da minha época, renovando o rock progressivo nacional, e de certo modo criticando ou expondo ao governo a insatisfação pelo modelo cultural adotado, em que se consumia livre e exageradamente toda a cultura estrangeira. E talvez ai, então, é que começamos a produzir com mais identidade os nossos próprios lixos culturais, novelas, séries, desenhos, e as músicas de hoje, usadas para a distração das massas. Mas a “geração coca-cola”, cantada na música da banda Legião Urbana, referia-se justamente a uma juventude envolvida num movimento de rebeldia e contestação, que anos antes muitos haviam sido reprimidos e extintos, nos tristes anos da ditadura militar, vistos no Brasil desde 1964. Mas em nada essa juventude transformou o modo de se viverem posteriores ao seu, tornado se na visão de alguns, hoje, uma geração perdida ou mesmo o fracasso pernicioso daquele período. “Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder”, já cantarolava Cazuza à época, outro grande personagem da música nacional.

Atualmente se fala e se discutem sobre o modo de vida das gerações atuais nascidas mais ou menos nessas três últimas décadas, ou um pouco mais, influenciadas ou influenciadoras do que assistimos hoje no Brasil. “A geração do milênio já era”... Agora é a vez da geração Z, esse é o título de um texto, em que se percebe o exemplo de jovens narcisistas que acreditam que podem fazer tudo o que querem a hora que querem. E também a geração de outro grupo, que poderá ser a salvação da colheita, a do imediatismo, com jovens que fazem tudo e ao mesmo tempo, mas que não fazem nada, pois para mim perdem a excitação pela vida de forma muito rápida. Discordo veemente que haja algo de bom saindo daí, seja de um, ou seja do outro. Usemos como exemplo o caso de um “atleta” brasileiro: quem é considerado pela mídia podre brasileira, atualmente, já algum tempo, um dos melhores jogadores de futebol que o país tem? Mas, olhemos quantos maus exemplos esse “mimadinho boleiro” nos dá para nos espelharmos. Sem citarmos nomes, olhemos outro exemplo não menos notório no país, mas que não deixa a desejar quando se fala de um exemplo exagerado da sexualidade feminina e a da falsa realidade do que realmente significa ser a mulher nacional. Então, enxergo os dois exemplos anteriores de casos que refletem uma juventude atual inútil, pois em nada contribuem para melhorar a imagem da sociedade ou do país, ao contrario só nos levam mais e mais para o buraco do ridículo e da desmoralização.

Recentemente acompanhei de longe o caso do menino Rhuan, e não me interessa aqui falar sobre a monstruosidade que foi feita pelos adultos que com ele estavam, mas sim perceber o tempo de vida dessas duas pessoas envolvidas nisto, que está entre 27 e 28 anos de idade, cuja obrigação e o dever eram o de criar, cuidar e zelar por essa criança, transformando-a em algo melhor do que elas não foram ou não puderam ser, mas não o fizeram, fizeram tudo ao contrário. E como disse, não me cabe aqui falar sobre isso, pois me entristece muito todos os detalhes sórdidos desta trágica história de maus tratos, violência e demência mental, porque não dá para considerar indivíduos que agem desta maneira como pessoas normais. Ai também já me faz recordar outra situação vista por mim nas redes sociais recentemente, sobre uma adolescente sem limites, aparentemente de uns 15 anos que agredia a própria mãe, puxando seus cabelos, pois esta a proibiu de ir a uma festa. Ou seja, temos aí mais dois outros exemplos diferentes de situações bem distintas, vivido por nós atualmente e que carece de muitas análises, pois, retomo o questionamento feito no topo do texto: Que geração é essa? Que geração é essa que estamos vendo e formando dentro do núcleo familiar, vivendo e acompanhado? Qual será o seu legado futuro para as gerações que virão depois de nós e delas?

O jovem de hoje não é o mesmo do de ontem, esse imediatismo, esse avanços tecnológicos, esse modelo de vida moderna não têm contribuído positivamente para a formação dos nossos jovens, ao contrário, tem o afastado da família, isolando-o no mundo da internet e nas influências negativas que dela podem vir a existir.

Como pode-se observar em diferentes fontes, os índices de suicídio entre os jovens, ele só tem aumentando e entre as causas que contribuem para isso está a solidão, o medo, a depressão, o bullying, e vários outros problemas que colaboram para que estes sintomas se desenvolvam e se tornem mais graves ao ponto de não haver mais volta, elevando o número de suicídios entre os jovens no mundo todo, e com toda certeza isso não é diferente com nossos jovens aqui no Brasil, mesmo que as imagens vistas nas mídias sociais nos mostrem um mundo perfeito, que distorce a realidade vivida.

E o que temos feito para mudar isso, enquanto família responsável pela tutela de nossos filhos e filhas? Que ensinamentos estamos dando ou passando para eles, que cuidado estamos tendo com cada um deles? O quanto de atenção estamos disponibilizando a eles, pois a net está aí, 24 horas por dia, a todo vapor, dando toda atenção que eles querem.

Trabalhando com adolescentes e jovens já há alguns anos, noto o quanto muitos deles, hoje, diferentes da minha geração ou de anos anteriores, trazem consigo tantos problemas de ordem psicológica, que afetam diretamente o seu convívio social na escola ou fora dela.

E não consigo aceitar que isso, perante a sua formação educativa, não seja tratado como um problema sério e grave, devendo ser melhor observado pelo restante da sociedade, para que no futuro, não coloquemos em risco o desenvolvimento de um país inteiro, que carece tanto de uma geração de jovens que nos mostre realmente a que vieram. E não de como vieram ou de onde vieram. Que não se façam de vítimas do sistema, ou se tornem novos reféns dele, deixando-se manipular ou influenciar negativamente pelas mídias sociais, mas com o uso da sua força e virilidade serem os protagonistas de uma sociedade melhor que esta que ai está posta, ou seja, uma sociedade justa e igualitária, em que todos nós possamos partilhar de uma vida digna e saudável repleta de bons exemplos de vida e de boas vivências.

Marcello dos Anjos.

Marcello dos Anjos
Enviado por Marcello dos Anjos em 21/06/2019
Reeditado em 26/06/2019
Código do texto: T6678196
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