A dubiedade na questão LGBT (Modelo Enem)

A cordialidade do brasileiro cria uma falsa estabilidade em suas relações. O discurso da tolerância não é exclusivo dessa característica dúbia, já explanada por Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil", pois no âmbito demagógico a diversidade LGBT é aceita e o Brasil é um país tolerante. No entanto, na prática, não é o que ocorre. Para tanto, medidas devem ser tomadas a fim de mitigar a problemática.

Outrossim, um exemplo que enfatiza o comportamento paradoxal do brasileiro nessa semântica, é nítido no tratamento depreciativo que personagens que poderiam representar um olhar mais analítico acabam recebendo, abarcando uma visão plana da questão. Isso ocorre na obra "O Cortiço" de Aluísio de Azevedo, especificamente na representação do personagem Albino, que é depreciado com termos pejorativos, como por exemplo, "fraco", "franzino" ou "afeminado", todos esteriótipos de alguém que não seguia o estado "natural" das relações entre homens e mulheres em uma sociedade não tão distante da nossa. É importante desconstruir essa acepção estereotipada, pois aceitar esses tratamentos como forma de análise de um contexto social, é algo leviano.

Ademais, na MPB também é possível notar a ambiguidade com relação à forma como a população LGBT é tratada. Apesar de ficcional, é possível relacionar com a realidade brasileira. Na canção "Geni e o Zepelim" de Chico Buarque, a intolerância ocorre quando Geni (travesti) é tratada com repúdio abertamente pela população local. No entanto, quando a cidade precisou dela para livrar-se da destruição, ela foi tratada dignamente. Após tal auxílio, a relação depreciativa e abusiva retornou. Isso ocorre fora do espectro ficcional, por exemplo, quando envolve interesses políticos, em que os candidatos tentam fazer alianças com esse eleitorado, não necessariamente por respeitarem, com efeito, sua causa, mas, apenas pelo peso numérico dessa parte social.

Infere-se, portanto, que em virtude dos fatos supracitados, que o combate à intolerância LGBT deve ser promovido pelo Estado, pois o próprio assegura o direito constitucional à liberdade individual. Ao Poder Legislativo delega-se a missão de criar uma lei que combata e puna qualquer tipo de perseguição que tente usurpar os direitos dessa parcela populacional. Além disso, deve-se fazer campanhas de esclarecimento da população, a fim de reduzir a dubiedade das ações no que tange o discurso e a aplicação deste. O principal veículo de propagação deve ser através das mídias virtuais, pois abarca grande parte da população, em consonância com os veículos televisivos, para máxima reverberação. Apenas assim a questão poderá ser atenuada e a cordialidade ilusória do brasileiro pode ser desconstruída.