Análise da relação entre fé e religião

De acordo com a conversa entre pessoas de diferentes pontos de vista em relação às religiões, e conforme o texto de Fowler e os trechos de filmes e entrevistas da aula de hoje,fiz uma análise da relação entre fé e religião.

Entendi que fé é um fenômeno experimentado por cada um de nós, que nos orienta para estabelecermos o sentido da nossa relação com a dimensão transcendente (no caso, como ver, sentir e agir), refletindo sobre e descobrindo os valores que sustentam nossa vida, dão sentido às nossas buscas e relações (como tornamos nossa vida interessante) (ou como tornamos nossa vida significativa - como a psicóloga do chocolate), os motivos para nossas esperanças (como a música do gurizinho do filme, ou o dar corda no relógio, do outro gurizinho do outro filme), determinam o que amamos e a que somos leais (onde colocamos nosso coração), atribuem alguma coerência entre tantas relações que compõem a vida, porque precisamos perceber o quadro completo, e precisamos que as coisas façam sentido umas com as outras, em meio a tantas incertezas e incoerências. "A fé é uma orientação da pessoa, dando propósito e alvo para as lutas e esperanças, para os pensamentos e ações da pessoa." (Fowler, p.24).

Já as religiões são algo já tentado explicar de várias formas (como menciona o cientista teólogo no vídeo da entrevista), são conjuntos de formas de expressar o que não se sabe, e o que não conseguimos expressar (por mais que experimentemos o fenômeno da fé), sobre a dimensão transcendente. Elas "vêm junto" com uma série de outros elementos (ritos, doutrina, símbolos) que encontraram aceitação entre grupos grandes de pessoas e funcionam como uma cultura compartilhada.

Do excelente vídeo das conversas, destaco algumas falas:

do cientista de teologia, sobre a existência de contradições como fato da vida (que não impediria o fenômeno da fé), sobre a angústia levar à fé, sobre a religião não dever ser algo infantilizador (de busca de proteção e guiamento), sobre as lógicas em choque das religiões e a consequente tolerância quando se tenta uma abordagem ecumênica ou "apaziguadora" - concordei com praticamente tudo que este debatedor expôs;

da senhora que pratica a meditação, sobre a espiritualidade ser uma busca individual, que oferece para cada pessoa aquilo que ela precisa;

do Pondé, sobre as religiões estarem sendo tomadas (e "comercializadas") como autoajuda, e sobre as diferentes formas que as pessoas usam para "fugir do debate" sobre religiões, para que todos finjam ficar "em paz", mesmo discordando totalmente da maneira de ver do outro.

Do texto de Fowler, destaquei vários trechos que considerei esclarecedores, e copio aqui:

p.15 O processo dinâmico e padronizado pelo qual achamos a vida significativa - visam ajudar-nos a refletir sobre os centros de valor e poder que sustentam nossa vida. As pessoas, causas e instituições que realmente amamos e em que confiamos, as imagens do bem e do mal, de possibilidade e probabilidade com as quais estamos comprometidos - tudo isso forma o padrão de nossa fé.

p.15 A fé é o nosso modo de achar coerência nas múltiplas forças e relações que constituem a nossa vida e de dar sentido a elas.

p.16 Nós exigimos sentido. Homo poeta. Precisamos de algum tipo de percepção do quadro completo.

p.16 A fé tem a ver com o jeito pelo qual investimos nossos amores mais profundos e nossas lealdades mais caras.

p.16-17 Estamos preocupados com as formas pelas quais ordenamos a nossa vida e com o que torna a vida digna de ser vivida. Procuramos algo para amar, e que nos ame; algo para valorizar e que nos dê valor; algo para honrar e respeitar, e que tenha o poder de sustentar o nosso ser.

p.20 A fé, ao mesmo tempo mais profunda e pessoal do que a religião, é a maneira pela qual uma pessoa ou grupo responde ao valor e poder transcendentes, conforme são percebidos e apreendidos através das formas da tradição cumulativa. (...) A tradição cumulativa é renovada seletivamente à medida que seus conceitos provam ser capazes de evocar e modelar a fé de novas gerações.

p.17 Para se ter uma razão para levantar de manhã, é preciso possuir um princípio qualquer, acreditar em alguma coisa.

p.20 Muitas pessoas hoje sentem não ter nenhum acesso utilizável a qualquer tradição religiosa cumulativa que seja viável.

p.21 Desejam reduzir o assunto a uma formulação sintética e então passar para outras coisas.

p.21 A fé é uma forma de ver, sentir e agir em termos de uma dimensão transcendente.

p.23 Em que você coloca o seu coração?

p.23 A que visão da correta relação entre os seres humanos, a natureza e o transcendente você é leal? Que esperança e que fundamento de esperança o animam e dão forma ao campo de forças de sua vida e à maneira como você se move nele?

p.24 Se compreende a fé como confiança no outro e como lealdade a um centro transcendente de valor e poder.

p.24 A fé é uma orientação da pessoa, dando propósito e alvo para as lutas e esperanças, para os pensamentos e ações da pessoa.

p.26 Não porque "devemos": valorizamos aquilo que nos parece ser de valor transcendente e em relação ao qual nossa vida tem valor.

p.29 Negar à morte a sua vitória: engajamo-nos em projetos em autovindicação, de autojustificação, que visam garantir, de algum modo, uma espécie de imortalidade para nós.

p.35 "Sabemos mais do que somos capazes de expressar."

p.36 Metáforas, símbolos, conceitos e outras representações servem para dar expressão a nossas imagens compartilhadas - como fazem as tradições religiosas mundiais duradouras.

p.36 Nosso propósito na vida só pode ser torná-la interessante. :-)

p.38 O oposto da fé não é a dúvida, mas o niilismo, a incapacidade de imaginar qualquer ambiente transcendente.

p.40 Consideramos a fé como um fenômeno humano, uma consequência aparentemente genérica do fardo humano universal de achar ou criar sentido.