MARIA DE NAZARÉ E A DOUTRINA DO THEOTÓKOS QUE CONQUISTOU ORTODOXOS, CATÓLICOS E PROTESTANTES

Por Luís Magno Alencar/ICAB (Seminarista) - Não há entre a maioria dos crentes, dúvidas sobre a importância grandiosa de Maria na História da Salvação. A simples menina de Nazaré, que veio a se tornar a Mãe de Deus, a Theotókos, na tradição cristã ortodoxa antiga, logo foi consolida no Concílio de Efésio de 431, onde houve uma coletiva reação ao herege Nestório (Patriarca de Constantinopla), que quis minimizar a importância de Maria, ao afirmar que Maria era apenas a Mãe de Cisto. Na verdade, a questão central deste assunto se deu em torno da defesa das naturezas divina e humana de Cristo e a Theotókos, foi, deveras dizer, uma vitória da doutrina da Igreja Una, também sobre o tema da cristologia.

Sabe-se que decisões conciliares são fundamentadas em bases bíblicas combinadas com costumes pré-existentes da Era Apostólica. Neste sentido, entende-se que o Espírito Santo adveio em favor da Mãe do Céu, ao transmitir para a história o valor que hoje a maioria de nós crentes confessamos.

À este meio tempo, já era caso consumado a consciência judaico-cristã sobre a intercessão dos anjos, dos patriarcas e dos profetas favorecendo em termos teológicos, o culto de memória ao testemunho dos santos mártires, também acompanhado de um crescente afeto espiritual à Santa Virgem Maria. “Senhor dos exércitos! Até quando ficareis insensível à sorte de Jerusalém e das cidades de Judá?” disse um anjo em Zacarias 1,12-13, ao interceder pelo povo. Em João, no Apocalipse, também se mostra que a consciência mariana de seu auxílio não foi uma “invenção nova”. "E da mão do anjo subiu à Presença de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos" (Ap 8,4). No contexto consciente da intercessão não refutada pelos apóstolos e pelos Pais da Igreja, é que o movimento mariano foi tomando força nas comunidade primitivas, tal como em Lucas Evangelista, considerado na tradição, um de seus primeiros devotos, no qual confirma-se e destaca-se o theotókos ao citar “Mãe do Senhor” e não meramente “Mãe de Cristo”, fórmula teológica defendida por Nestório. “É uma grande honra ser visitada pela mãe do meu Senhor!” (Lc 1,43). Além disso, um texto antigo atribuído ao Apóstolo André, contradiz a posição herética de seu sucessor em Constantinopla, pois diz: “Maria é Mãe de Deus, resplandecente de tanta pureza, e radiante de tanta beleza, que, abaixo de Deus, é impossível imaginar maior, na terra ou no céu.” (Sto Andreas Apost. in transitu B. V., apud Amad.). E no alinhamento sequente de declarações, temos a citação a de um dos mais respeitados Pais da Igreja, Orígenes de Alexandria (184-254) que diz: “Maria é Mãe de Deus, unigênito do Rei e criador de tudo o que existe” (Orig. Hom. I, in divers).

A arqueologia paleo-cristã, que no ritmo das colaborações da ciência colocam luzes sobre várias questões da fé, confirma os indícios de pré-veneração dos fiéis da igreja cristã primitiva, expressada assim, nas existências de imagens sacras vistas em afrescos da Virgem Maria já no século II (na Síria ortodoxa e na Roma católica). As datações são importantes porque infere discordância com “uma inversão tardia da devoção mariana”.

Apesar de uma decisão conciliar que envolveu cerca de 200 bispos do Ocidente e do Oriente, a vitória da presidência do Patriarca de Alexandria na reunião em Éfeso (cidade da ortodoxia bizantina onde a Mãe Santíssima teria passado seus últimos dias), ecoou de forma muito positiva, mesmo após o Cisma do Ocidente que deu origem a Reforma Protestante. Afirmou o próprio Martinho Lutero: “Deus não recebeu sua divindade de Maria; todavia, não segue que seja consequentemente errado afirmar que Deus foi carregado por Maria, que Deus é filho de Maria, e que Maria é a Mãe de Deus”. A Tradição luterana, por sua vez, confessou o Theotókos na Fórmula de Concórdia (1577), aceito pela Federação Luterana Mundial ainda hoje.

Porém, é preciso citar que devido a pouca incidência de um estudo teológico profundo por parte das igrejas evangélicas atuais (chamadas de pentecostais), que nega a theotocos atribuído à Virgem Maria, porém em discorde do título, obteve algum crédito o renomado teológo Jürgen Moltmann (1970), que argumentou sobre uma cristologia pneumática, ou seja, fundamentada no Espírito Santo, como força criadora e retirando o que se pensava sobre a maternidade divina de Maria. Tal noção é antiga remonta as igrejas da Síria e da Armênia.

Neste quadro de possibilidades de segmentos na teologia foi que, apoiado por uma piedade popular na realidade católica entre os brasileiros e à despeito do que houve na Igreja no primeiro milênio,, é que o fundador da ICAB/Igreja Católica Apostólica Brasileira, o Dom Carlos (que nos legou a devoção de Nossa Senhora Menina) não hesitou, mesmo sob influência da Reforma Protestante, em adiantar-se na preservação da doutrina theotókos, logo admitindo a fé nos primeiros concílios da igreja una. Não fosse assim, como se tornaria realizável a profecia dita por Maria diante da exaltação de Santa Isabel? “Todas as gerações me chamaram feliz, porque o Senhor fez em mim maravilhas” (Lucas 1, 34-55).

Gualther de Alencar
Enviado por Gualther de Alencar em 06/09/2020
Reeditado em 06/09/2020
Código do texto: T7056352
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