Lógica primária e três exemplos

Lógica, por uma concepção primitiva (de minha parte), é tudo aquilo que obedece a leis ou padrões existentes e, portanto, que apresenta coerência potencialmente cognoscível de funcionamento e constituição, incluindo ou, especialmente, a (natureza da) própria realidade em que existimos.

A lógica, enquanto faculdade mental, é a capacidade básica de reconhecer esses padrões ou leis {da natureza lógica} de perspectivas, fenômenos ou elementos da realidade. Por exemplo, quando eu vejo que o céu está ficando nublado, com nuvens carregadas e, então, começa a chover, eu percebo um padrão lógico ou coerente, existente, repetitivo ou cognoscível.

A lógica primária seria uma espécie de pensamento lógico precipitado ou simplório que não é baseado em uma varredura analítica mais robusta.

Três exemplos:

1. Doenças infecciosas matam apenas os mais vulneráveis

Faz sentido lógico-primário que aqueles com sistemas imunológicos imaturos ou enfraquecidos estejam em maior risco de morrerem se se contaminarem com uma doença infecciosa. Com a pandemia de covid-19 neste ano de "2020" de "meu deus", e seu padrão de letalidade, essa relação lógica tem sido entoada por muitos. No entanto, se o novo coronavírus é mais severo com idosos e pessoas com sistemas imunológicos comprometidos ou frágeis, ele tem sido muito mais leve com crianças e adolescentes que, por essa lógica primária, também deveriam estar entre os grupos de risco. A gripe "espanhola" é um outro exemplo que foge à regra, porque matou muito mais jovens do que idosos...

2. Pobreza causa comportamento violento

Se eu vivo em um ambiente muito pobre, passo fome e sempre me sinto ameaçado de sofrer violência, é provável que eu me torne mais arredio ou agressivo, certo?

Se fôssemos como folhas de papel em branco, estaria correto, mas já praticamente nascemos com tendências psicológicas e cognitivas, de maneira que, apesar de primariamente lógico que as características do ambiente influenciarem no comportamento, essa relação entre ser e meio também tem o primeiro e suas características "inatas' como sujeito(s) muito relevante(s). Portanto, independente se eu sou uma pessoa extremamente pacífica ou não, e hipoteticamente me encontro em uma situação como essa, o ambiente não irá, "sozinho", moldar minhas respostas. Aliás, em termos literais, não existe essa equivalência entre ser e meio, se é apenas o primeiro que pode, de fato, se comportar conscientemente. Mesmo quando temos uma coincidência estatística entre ambiente socialmente empobrecido e níveis altos de violência, isso não significa que "o ambiente" está literalmente forçando algumas pessoas a agirem assim, até porque muitas das que vivem nesse meio, se não a maioria delas, não acaba no mundo do crime. O fator mais importante é a índole, que pode ser resiliente, variável em robustez ou sugestionável.

3. Pessoas mais inteligentes são (sempre) mais "mentalmente saudáveis"

Mais intensa é uma expressão, maior é o risco de que se desequilibre. Vide os "gênios" e uma maior incidência de transtornos mentais entre eles. E não estou falando de "intelectualmente dotados" ou pessoas com elevadas capacidades cognitivas se comparadas com a média, mas sobre criatividade e realização extraordinária. No entanto, a lógica primária da frase do exemplo parece que nunca cai em desuso, mesmo com um acúmulo de evidências contrárias à sua conclusão. Faz sentido que características tão importantes e valorizadas como a criatividade e a inteligência só possam vir a se relacionar com "coisas boas". Mas...