O elitismo acadêmico em provas de vestibular e concurso

Linguagem academicista?

Temos.

Questões bem escritas?

Não temos.

Questões das provas de vestibular e de concurso costumam ser de difícil compreensão para o leitor-candidato, não apenas por causa do emprego da norma culta mas também de uma linguagem obscura, típica de textos acadêmicos, com excesso de palavras incomuns na construção das perguntas.

Aí caberia saber se essas provas realmente avaliam a capacidade de compreensão textual ou de domínio das normas culta e academicista??

Sem falar que o uso das duas tende a excluir uma boa parte dos candidatos oriundos das classes basais, por não terem tido acesso ao seu aprendizado ou também porque não apresentam proclividades para "escrever difícil" ou entender textos de quem "escreve difícil".

Algumas das habilidades verbais mais relevantes são as de compreensão e produção textual inteligível, se o que mais importa para a linguagem é a capacidade de comunicação, de ser compreendido e de compreender.

Interessante que, em relação ao Enem, enquanto nos pedem que façamos redações impecáveis, eles mesmos, os produtores da prova, fazem questões mal escritas, com nível baixo de compreensão para o leitor-candidato. Poderia pensar que fazem isso para dificultar as questões, porém, existem outros meios que não precisam ser baseados no uso de uma linguagem excessivamente elitista, por exemplo, mantendo um teto de dificuldade, que é necessário, mas focando na capacidade de compreensão do conteúdo, por si mesmo. Porque o que acontece muitas vezes é que não se entende a pergunta por estar escrita de maneira confusa e não o conteúdo do texto.

Não sou contrário ao emprego da norma culta como padrão nessas provas, mas sim o da linguagem academicista. Se a primeira, originalmente, visa ser neutra e compreensível. E se a segunda se consiste em uma deturpação da norma culta, de sua forma mais adequada, com uso excessivo de palavras incomuns que dificultam a compreensão, muito empregada no meio acadêmico, principalmente nas ciências humanas, e que tem servido em alguns casos para disfarçar a falta de originalidade ou de relevância do conteúdo do artigo.