E BOLSONARO BATEU A SUJEIRA

Miguel Carqueija

Assisti um pequeno vídeo onde o Presidente Jair Bolsonaro, em meio a um grupo de correligionários, comentou que o jornal “Estado de São Paulo” antigamente vendia 500.000 exemplares por dia e hoje, os dez maiores jornais do país juntos não vendem isso. Concluindo seu pensamento, o presidente declarou que a imprensa virou “partideco político” e perdeu a credibilidade. Algumas pessoas falaram então: “Globolixo”. Bolsonaro falou “Não aceito chamar a Globo de lixo”. E explicou: “Porque lixo é reciclável”.
Agora, permitam dizer o que eu penso já de longa data. Eu conheci uma época em que “O Globo” era um bom jornal. Nos anos 50/60 meu pai trazia religiosamente o exemplar quando voltava do trabalho e eu o pegava avidamente para ler as histórias em quadrinhos. Quando fiquei mais crescido passei a me interessar também por alguns articulistas e por matérias científicas ou de curiosidades que costumavam sair, inclusive vindas do exterior. Ainda lembro dos artigos instigantes de Cécile Claire, Alain Guy e Lawrence Brunot sobre assuntos misteriosos, como um de Cécile Claire a respeito da besta de Gévaudan. E havia ótimos colunistas como Gustavo Corção, Mozart Monteiro, Elssie Lessa, Eugênio Gudin, Nélson Rodrigues, Otelo Caçador, Maria Julieta Drummond de Andrade, Gilberto Souto, Jota Efegê, Dom Eugênio Sales e vários outros.
Tudo isso foi acabando.
Hoje o que resta é um jornal tristíssimo, dominado pela contracultura.
Justiça seja feita, o esquerdismo e contraculturismo da imprensa atual não bastam para explicar a queda nas tiragens. Muito antes disso eu já havia parado de comprar jornal diariamente porque a situação econômica se apertava, com o péssimo rumo dos nossos governantes. Só governos como FHC e Lula, que tudo dificultavam. Os salários em degradação. Então, o jornal, embora teoricamente barato, começou a pesar no orçamento. E logo não havia mais interesse, pela queda da qualidade. Eu não comprava só “O Globo”, também andei adquirindo o tradicional “Jornal do Brasil”, às vezes a “Última Hora” ou a “Tribuna da Imprensa”. Publiquei muito nas cartas de leitores. O JB acabou indo para o meio virtual, reapareceu nas bancas e tornou a sumir. A maior parte dos periódicos que circulavam no Rio de Janeiro fechou (Luta Democrática, O Jornal, Diário de Notícias, Correio da Manhã etc).
Mas afinal abandonei de vez o hábito, e não me fez falta. Para que comprar jornais de papel cujo destino seria apenas o chão? Para a limpeza bastavam os encartes dos mercados, que são gratuitos. Hoje em dia a gente sabe de notícias por outros meios mais rápidos e quanto a colunistas, é melhor ler livros.
Só um reparo em relação ao que Bolsonaro falou: a Globo é lixo sim, mas lixo não reciclável.

Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2021.