POST IT - PREFÁCIO AO LIVRO “O CAFÉ DO SARGENTO”, DE FERNANDO FABBRINI

"Que estilo é este que a gente nem percebe? E os diálogos, que parecem apanhados ainda quentes nos lábios das personagens!" (Jókai Mór - Escritor húngaro)

Para quem conhece o argumento do primeiro romance de Fernando Fabbrini, "Canalva", cuja trama se desenvolve na fantástica, intocada e minúscula Isla Dulce do Atlântico Sul - ao acaso dividida em duas metades no mapa que em 1494 estabeleceu os limites das terras novas, por obra e graça do Tratado de Tordesilhas - é difícil ficar circunscrito ao sabor e tempero deste "O Café do Sargento". Se em "Canalva" o que aflora, emoldurando o cenário, é o plantio da suculenta Saccharum officinarum, neste desponta a conquista da Rubiaceae ethiopia sidamo, aportada a essas bandas à altura do paralelo da Guiana, por volta

de 1727.

Com o sextante ajustado ao "velho mapa tracejado em tinta sépia", que dá rumo a esta navegação, e sob sedutor calor dos trópicos a insinuar promessa de ambientes de luxos e prazeres, zarpei com a mente aberta e olhos atentos. Ao sabor deste "Café" e do açúcar de "Canalva", ambos fontes de vigor, ânimo, energia e prazer, convido-os a sorver e deixar fruir as quimeras do sargento-mor Francisco de Mello Palheta, com o pensamento voltado para Madame d'Orvilliers – que "não era tola" –, fertilizando sem pudores a imaginação para, quem sabe, prostrar exangue "ao final de cada batalha, onde não há vencedores nem vencidos."

A história parece ficar à deriva na última cena. Parece! É meramente a derradeira página, não o final da travessia, pois no atracadouro, ainda sem curso alinhavado, mas com a vela-mestra içada no mastro principal e suficiente bom vento em popa, descobrimos que se trata tão somente de interrupção nos apontamentos do diário-de-bordo do capitão Fabbrini, artimanha generosa do velho marinheiro. Ao desembarcar, ele trans fere o timão da chalupa a quem se dispuser a continuar "aconchegando-se no balanço do Belle Suzanne como num colo de mulher", para singrar rios e mares em busca de novas aventuras, navegar ao encontro de outras paisagens a bombordo ou a boreste – não importa! –, pois é nas referências das laterais que se encontram os marcos das mais improváveis conquistas.

– Recolher âncoras, içar e enfunar velas... E boas viagens – determina o sorridente Comandante, acenando do cais. Numa palavra: saboroso.

Epiphânio Camillo

2021