POST IT - PREFÁCIO AO LIVRO “A CONSTITUIÇÃO DE TODOS NÓS”, DE OCTÁVIO ELÍSIO ALVES DE BRITO
EX-LIBRIS
(Epiphânio Camillo)
“De tudo ficaram três coisas... A certeza de que estamos começando... A certeza de que é preciso continuar... A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.” (Fernando Sabino - O Encontro Marcado, 1956)
Octávio Elísio Alves de Brito praticou e ensinou amizades. Para ele a divergência de ideias era rico manancial para a prática de aprendizados.
Engenheiro de Minas e Metalurgia, Professor de Matemática, trouxe dos conhecimentos e cânones da mineração, e das equações cartesianas, o modelo da garimpagem lenta, profunda e cuidadosa, para o ambiente da Cultura e da Política, conseguindo ajustar aos radicais das parcelas e dos termos implacáveis das ciências exatas, o imponderável das percepções dos sentidos, nelas assentando as razões para compor a poesia da vida, as bem-vindas oportunidades de aprendizados nas incomensuráveis diferenças captadas pelos olhares alheios.
Ouro Preto dos Inconfidentes lhe injetou o sentimento inato e permanente da Liberdade como valor absoluto, forjando na prática da Democracia o caminho para exercitar a plenitude de todas as alegrias possíveis. Liberdade e Democracia, ambas inegociáveis, foram guias e faróis nas relevantes atividades que exerceu como Homem Público, Legislador, Constituinte, Amigo.
Cultor da Língua Pátria, símbolo da Identidade Nacional, conjugava no dia a dia os verbos aprender, ensinar, viajar, sorrir, compreender, perceber, acolher, acatar, rever, indagar. Amizade, substantivo comum, deveria permitir-se verbo regular para representar adequadamente o que Octávio conjugava em todos os modos, tempos, flexões.
Nos espaços que frequentava imprimia a marca de sua presença. Ancorava em silêncio, saia sem alardes nem ruídos. Brilhava com veemente elegância nos intervalos, contaminando o ambiente com autêntica simplicidade, ponderação e equilíbrio. Nas conversas, pausava quando interrompido; aguardava com atenciosa paciência o momento de retomar. Era atento bom ouvinte.
Nesta obra, pronta e inacabada, está um dos legados de Octávio Elísio Alves de Brito.
Nós, Confrades da semanária Tertúlia Quixotesca (Edmundo Carvalho, Francisco Bastos, Olavo Romano, Paulo Miranda e William Santiago) compartilhamos das inúmeras releituras dos textos que Octávio tecia com cuidado extremo, polindo as palavras para que fossem mais fidedignas à história que viveu e ajudou a construir. Vocacionado Professor, considerava sua atribuição o dever de contá-la.
No Congresso Nacional participou de várias reuniões decisivas. Desejava que aqueles momentos da nossa história estivessem expostos em fotografias sem retoques. Nesse propósito trabalhou com dedicação por alguns anos buscando, em cada revisão, acrescentar mais detalhes por ele captados sobre as intricadas negociações e tratativas para que a nova Constituição acolhesse a participação coletiva, onde cada cidadão se sentisse representado.
Queria deixar revelada a visão mais aproximada que observou nos palcos, nos bastidores e nas coxias dos acontecimentos, que, dizia, teve o privilégio de frequentar com assiduidade, por vezes sendo protagonista, observador, aluno, conselheiro, revisor.
Conseguiu.
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(Abril de 2022)