DOM QUIXOTE DE LA MANCHA - O HERÓI DE CERVANTES FAZ 400 ANOS

Um cavaleiro andante que vivia num mundo de sonhos e seu fiel escudeiro resolveram, no século 17, caminhar pela Espanha à procura de aventuras. Essa história, a princípio simples, elevou seu criador – o espanhol Miguel de Cervantes – ao posto de um dos maiores escritores da literatura mundial. Dom Quixote de La Mancha completa, em 2005, seu 400º aniversário.

Na época, os livros de cavalaria eram muito populares, pois narravam histórias fantásticas, com personagens nobres, puros e que lutavam pelo amor, pela paz e pela justiça. Miguel de Cervantes resolveu inovar e criou um personagem que gostava tanto de ler a ponto de enlouquecer e imitar seus heróis. Assim nasceu Dom Quixote.

O nobre endoidecido andava pela Espanha como se fosse um dos grandes homens dos livros de cavalaria. Mas para que sua aventura fosse parecida com as proezas dos heróis literários, a imaginação interferiu na sua própria realidade: tratava monges como feiticeiros e lutava com moinhos de vento como se fossem gigantes malfeitores, convencendo-se de que apenas homens destemidos como ele poderiam derrotá-los e, assim, trazer paz e justiça para a Espanha.

A história de Dom Quixote encantou e ainda encanta milhões de pessoas. Para se ter uma idéia, no lançamento do livro foram necessárias seis edições para dar conta dos pedidos. É a obra mais traduzida depois da Bíblia. Além disso, inspirou peças de teatro, óperas, balés, filmes, programas e desenhos animados. Os espanhóis Salvador Dalí e Pablo Picasso, além do brasileiro Cândido Portinari foram alguns dos pintores que deram forma aos personagens de Cervantes.

A herança de Dom Quixote é tão forte que existe até um adjetivo – quixotesco – para se referir aos homens que, como o cavaleiro, são extremamente idealistas.

O engenhoso fidalgo e seu fiel escudeiro

O pitoresco personagem de Cervantes, foi criado com o propósito de ridicularizar os livros de cavalaria. Na verdade, o nobre se chamava Alonso Quijano, e acreditava tanto nos ideais cavalheirescos de amor, paz e justiça, que resolveu sair pelo mundo em defesa desses valores. Numa região espanhola chamada Mancha, ele escolheu um título para se identificar: Dom Quixote de La Mancha. Depois, apelidou um cavalo velho de Rocinante e elevou uma camponesa à nobre dama a quem dedicou seu amor: Dulcinea Del Toboso. Em suas aventuras, sempre foi acompanhado pelo fiel escudeiro: o camponês Sancho Pança, que vivia num mundo oposto ao do amigo, cheio de responsabilidades e preocupações.

O livro de Cervantes representa o lado espiritual e nobre da natureza humana, o amor do honesto e do ideal, tão valorizado nos romances de cavalaria. A amizade entre o cavaleiro e o escudeiro é considerada uma das manifestações de maior respeito descritas na literatura. A narrativa apresenta dois planos: o imaginário, que seria o mundo do cavaleiro, e o realista, representado pela visão do escudeiro.

Cervantes procura dosar, nas proporções certas, imaginação e realidade. Quando constrói o plano da imaginação, ele mantém as dimensões e a estrutura do mundo real. E consegue pelo amor que Dom Quixote dedica a seus sonhos. O cavaleiro age como se só existisse aquela maneira de ver o mundo. Ele ama, respeita e entende bem esse universo que o leitor, às vezes, confunde-se.

Ao voltar para casa, cansado, Dom Quixote recupera a razão e volta a ser o nobre Alonso Quijano. Entretanto, Sancho Pança, seu oposto no plano imaginário, anima-o a partir em busca de novas façanhas heróicas.

Assim, entre realidade e imaginação, Miguel de Cervantes não toma partido de nenhum dos dois mundos. Fica a critério do leitor avaliar que talvez não exista nada real que não se confunda com a imaginação, nem nada que, vindo da imaginação, não possa modificar ou interferir na realidade.

Miguel de Cervantes

"Só para mim nasceu Dom Quixote e eu para ele: ele para praticar ações e eu para escrevê-las. Somos um só (...)"

Miguel de Cervantes

Miguel de Cervantes Saavedra nasceu em Alcalá de Henares, na Espanha, em 29 de setembro de 1547. Passou a Infância em Valladolid e estudou em Madri e Sevilha que, no século 16, era uma das mais importantes cidades do ocidente, capital financeira, comercial e artística da Europa. Em 1571, serviu ao exército do rei espanhol Filipe II na batalha naval de Lepanto contra o império turco. Ferido, perdeu os movimentos da mão esquerda.

Ao voltar de outra expedição, Miguel de Cervantes foi capturado por piratas argelinos e vendido como escravo ao rei de Argel, Hassaou Pacha. Em vão, tentou fugir, até que o monge Juan Gil pagou seu resgate. De volta à Espanha, em 1587, passou por sérias dificuldades, principalmente porque sua produção literária não apresentava resultado. No entanto, conseguiu ser nomeado Corsário Real, sendo-lhe atribuída a missão de coletar azeite e grãos para a Armada Invencível – esquadra criada por Filipe II para conquistar a Inglaterra. Por não saber matemática, foi enganado por corsários e preso sob acusação de roubo em 1592.

Em 1605, com a publicação de Dom Quixote, Miguel de Cervantes – então com 58 anos – conseguiu juntar algum dinheiro e pôde se dedicar exclusivamente à literatura. A obra fez tanto sucesso que um falsário, que assinava como Alonso Fernández Avellaneda, lançou a segunda parte do romance. Revoltado com a falsificação, o autor legítimo tratou de publicar a continuidade da obra em 1615. Além de Dom Quixote, escreveu também poemas e textos para o teatro, sem grande repercussão, e Novelas Exemplares, considerado um dos mais importantes volumes de contos da literatura universal.

Miguel de Cervantes morreu em Madri no dia 23 de abril de 1616.

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JDM

José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 16/12/2005
Reeditado em 04/10/2022
Código do texto: T86628
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