Deu no Blog do Noblat

13/04/2006 ¦ 08:00

Falta de vergonha e azar

A Câmara dos Deputados deveria fechar as portas durante uma semana em sinal de luto. Ou então trabalhar dobrado durante uma semana em sinal de luto.

Na semana passada, por 256 votos contra 209, mais sete em branco, dois nulos e nove abstenções, a Câmara salvou o mandato do seu ex-presidente João Paulo Cunha (PT-SP), acusado de irregularidades quando exerceu o cargo e de embolsar grana de Marcos Valério.

Dos 513 deputados, votaram 483. Na prática, os 30 que faltaram deram seus votos para absolver João Paulo – assim como os sete que votaram em branco, os dois que anularam o voto e os nove que se abstiveram.

Porque para que se casse um mandato são necessários 257 votos. Faltaram 48 votos para João Paulo ser cassado. A soma dos 30 ausentes com os que se abstiveram, votaram em branco ou nulo dá 48. Bingo!

A boa reputação do homem declarado inocente pela Câmara foi destruída em 10 das 136 páginas da denúncia oferecida ao Supremo Tribunal Federal pelo Procurador Geral da República Antônio Fernando de Souza.

Ali, João Paulo é apresentado como “integrante de escol” do PT escalado para ocupar a “função estratégica” de presidente da Câmara pela “organização criminosa” que roubou e que facilitou o roubo dentro do governo.

No início de 2003, Valério fez de graça a campanha de João Paulo para presidente da Câmara.

No dia 3 de setembro daquele ano, Valério se reuniu com João Paulo na casa dele. No dia seguinte, a mulher de João Paulo sacou R$ 50 mil da conta de uma das empresas de Valério.

No dia 16, saiu o resultado da licitação pública para cuidar da imagem da Câmara.

Quem ganhou?

A SMP&B, agência de publicidade de Valério. E o que ela fez?

Está na denúncia do Procurador: com o aval de João Paulo Cunha, a SMP&B subcontratou 99,9% dos serviços que deveria prestar à Câmara.

De um total de R$ 10.745.902,17 somente R$ 17.091,00 foram pagos diretamente à SMP&B.

Quer dizer: a agência ganhou a licitação “apenas para intermediar subcontratações, recebendo honorários de 5% por isso. Referida situação caracteriza grave lesão ao erário, além do crime de peculato”, afirma o Procurador.

Que, por fim, acusa João Paulo Cunha de ter desviado R$ 536.440,55 em proveito da “organização criminosa” liderada pela ex-ministro José Dirceu.

A Câmara estava careca de conhecer as falcatruas cometidas pela dupla João Paulo-Valério.

Talvez não contasse com a dureza da peça assinada pelo Procurador e com a divulgação dela uma semana depois da absolvição de João Paulo.

Antes lhe faltara vergonha. Agora deu azar.

Enviada por: Ricardo Noblat

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 13/04/2006
Código do texto: T138406