Um gênio da Política (ou o imperialismo dos pobres)

abaixo seguem algumas notas publicadas nesta terça-feira (2) no Blog do Noblat (Estadão Online). São reveladoras das trapalhadas políticas cometidas pelo governo Lula. Tido por alguns que o cercam como "um gênio", Lula tem demonstrado que sua habilidade em trair idéias e pessoas e coloca naquela galeria dos que sobem na vida a qualquer custo, dos que se agarram aos mais fortes (o capital) para se dar bem em cima dos mais fracos. Mas agora está recebendo o troco do antes "companheiro" Evo Morales, da Bolívia.

Não fazem muitos anos, o Caetano Veloso, grande compositor mas um péssimo pensador da política, espalhou aquele verso (em "Língua"): "Sejamos imperialistas!". Pelo visto, nem a estratégia de ser imperialista entre os mais pobres nem

a genialidade de Lula estão dando muito certo. É que talvez os assessores de Lula tenham mencionado a palavra "gênio" querendo se referir àquela figura mítica que resolve tudo com passes de mágica.

Reproduzirei apenas algumas notas. O Blog completo está em:

http://noblat1.estadao.com.br/noblat/visualizarConteudo.do?metodo=exibirPosts&data=02/05/2006#post20590

"Do companheiro Morales para o companheiro Lula

O presidente cubano Fidel Castro é o mais antigo ditador do mundo ainda no pleno exercício de suas funções. O presidente venezuelano Hugo Chávez se julga a nova encarnação do general Simon Bolívar, responsável no século XIX pelo fim do domínio espanhol sobre parte da América do Sul.

Foi com os dois que se reuniu Evo Morales poucas horas antes de nacionalizar a indústria de petróleo e de gás do seu país. Morales incorporou a Bolívia à Alternativa Bolivariana para as Américas, organismo criado por Castro e Chávez em 2004 e que pretende se opor à Associação de Livre Comércio da América Latina, proposta pelos Estados Unidos.

Apesar da pobreza da maioria dos seus habitantes, a Venezuela é o quinto maior produtor mundial de petróleo, o que estimula Chávez a engrossar a voz. Cuba tem açúcar e nada mais. Antes dependente da ajuda da extinta União Soviética, vive no sufoco há mais de 40 anos devido ao bloqueio comercial imposto pelos Estados Unidos.

Quanto à Bolívia, trata-se simplesmente da nação mais pobre da América do Sul.

Para se eleger, Morales prometeu, entre outras coisas, nacionalizar a indústria petrolífera. Menos de quatro meses depois de ter sido empossado, sua popularidade despencou. Na véspera de anunciar a decisão mais ousada que tomou até aqui, despistou e disse que ainda era cedo para tal. Aproveitou a data de primeiro de maio para anunciá-la.

Cercou-a dos adereços típicos de um nacionalismo ultrapassado – discurso no local do maior campo de extração de petróleo e de gás, apelo aos seus compatriotas para que resistam a possíveis atos estrangeiros de sabotagem, faixas estendidas com a versão boliviana do slogan “O petróleo é nosso”, e a ocupação militar de 56 refinarias.

Foi um ato unilateral destinado a provocar forte repercussão em larga parte do mundo. Ao invés de negociar com as empresas estrangeiras condições mais vantajosas para permitir que continuassem operando na Bolívia, Morales preferiu correr o risco de rasgar acordos comerciais firmados há muitos anos.

Entrou para a História pela contramão. Empolgado com a reação dos bolivianos, Morales apressou-se a antecipar que em breve pretende nacionalizar os principais recursos naturais do seu país – minérios, florestas e terras. “É assim que se constrói um novo modelo econômico”, disse ele.

É assim também que se constrói um desastre.

A Bolívia não pode se dar ao luxo de dispensar investimentos estrangeiros. Doravante, quem se sentirá seguro para aplicar ali o seu dinheiro? Chávez, sozinho, não bancará a aventura de Morales. Castro não tem um tostão para isso. E à caça de um novo mandato, Lula está impedido de demonstrar a mais remota simpatia pelo gesto de Morales.

Quando nada porque os interesses brasileiros na Bolívia foram duramente afetados. A Petrobrás aplicou desde 1996 naquele país algo como US$ 3,5 bilhões para explorar petróleo e importar gás. É a maior empresa da Bolívia, responde por 15% do seu Produto Interno Bruto e toca suas maiores refinarias.

O governo brasileiro deixou-se levar pelo entusiasmo que lhe despertou a eleição de Morales. Uma medida disso está no trecho final do discurso feito por Lula no dia 30 de novembro último na província argentina de Puerto Iguazú. Morales ainda não havia sido eleito. Disse Lula traindo sua megalomania:

- Aí chega você, [Kirchner] que não estava previsto ser presidente da Argentina, chego eu, que não estava previsto ser presidente do Brasil, e a gente começa a perceber o que está acontecendo na América do Sul. (...) Imagine o que significou a eleição do Chávez na Venezuela; imagine o que significa se o Evo Morales ganhar as eleições na Bolívia.

No dia 8 de fevereiro passado, foi a vez de Marco Aurélio Garcia, assessor de Lula para Relações Internacionais, revelar a cegueira do governo diante do que se desenhava na Bolívia. Pouco antes de voar a La Paz para discutir mudanças no contrato da Petrobrás com o governo Morales, Garcia disse que o Brasil não tinha por que se preocupar com o assunto.

- Existe um ambiente de negociação muito tranqüilo entre os dois países – garantiu.

Não havia. Morales dera todos os sinais de que procederia como de fato procedeu.

Lula deve ter pensado que se arranjaria com Morales na base do gogó – afinal foi com o gogó que conseguiu escapar quase ileso do efeito devastador do escândalo do mensalão.

Resultado: o companheiro Morales passou a perna no companheiro Lula.

Enviada por: Ricardo Noblat

76

02/05/2006 ¦ 08:31

Bem que ele avisou...

"Na Bolívia, nos sentimos como irmão menor do Brasil. Como dirigente sindical e dirigente político, também me sinto como irmão menor do companheiro Lula. Em todo o caso, como irmão maior, Brasil e Lula têm de nos guiar para resolver nossos problemas. Não é porque é o irmão maior que nos pode submeter sob seus interesses".

(Evo Morales em entrevista à Folha de S. Paulo em maio de 2005 antes de ser eleito.)

Enviada por: Ricardo Noblat

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02/05/2006 ¦ 08:00

Suplicy na forca

Comentário da cientista política Lucia Hippolito na CBN:

"Mais um emocionante capítulo da guerra paulista vai se construindo, com motivações e repercussões nacionais.

Nas eleições de 2004, Lula jogou todas as suas fichas na reeleição de Marta Suplicy. São Paulo foi transformado pelo PT e pelo governo Lula na “mãe de todas as batalhas”.

Para enfrentar esse rolo compressor, o PSDB apresentou um de seus melhores quadros. E o resto é história. José Serra deu uma surra em Marta, e a derrota em São Paulo dói nos petistas até hoje.

Nessas eleições de 2006 o quadro é semelhante: apenas a disputa se transferiu para o governo estadual. Até os candidatos podem ser os mesmos: pelo PSDB, José Serra. No PT, disputam a vaga Marta Suplicy e Aloísio Mercadante, sendo que o presidente Lula parece preferir o senador Mercadante.

Mas as pesquisas estão dando uma vitória espetacular de Serra já no primeiro turno, independentemente do adversário.

É aí que o bicho pode pegar. O presidente Lula, que precisa desesperadamente da aliança com o PMDB para tentar se reeleger, se possível no primeiro turno, inventou agora a candidatura do deputado Aldo Rebelo ao governo de São Paulo. Lula ficaria com dois palanques no estado, um do PT e outro do PCdoB, e jogaria tudo para tentar levar a eleição paulista para o segundo turno.

Acontece que esta é uma operação delicada, porque passa por uma aliança entre Aldo Rebelo e... Orestes Quércia! Isto mesmo. Quando a gente pensa que já viu tudo, aparece esta possibilidade de aliança inteiramente esdrúxula.

Aldo seria o candidato ao governo, e Quércia ao Senado, apoiado pelo governo Lula. OK. Falta combinar com o eleitorado.

Mas falta, sobretudo, combinar com o senador Eduardo Suplicy. Em 2006, só haverá eleição para uma vaga de senador.

E o mandato que termina é o de Suplicy. Em outros tempos, seria duro encontrar alguém que se dispusesse a uma derrota certa, pois a eleição de Eduardo Suplicy sempre foi considerada uma barbada.

O senador Suplicy foi um dos poucos petistas que não saiu chamuscado pela crise do mensalão. Mas, talvez por isso, parece ter desagradado profundamente o presidente Lula e as principais lideranças do PT.

Assim, um político de boa reputação como Suplicy, petista histórico, fundador do partido e um de seus militantes mais ativos, pode ser atirado ao mar em favor de uma aliança entre o PT, o PCdoB e o PMDB de Orestes Quércia.

Não é por nada não, mas é muito estranho este modo petista de fazer política sacrificando um de seus melhores nomes."

Enviada por: Ricardo Noblat

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02/05/2006 ¦ 03:41

Uruguai ensaia sair do Mercosul

Da Folha de S.Paulo, hoje:

"O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, disse, em visita a Washington, que se propõe a quebrar o pacto firmado no tratado do Mercosul para que o país deixe de ser membro pleno do bloco e se torne apenas um país associado ao grupo regional. Vázquez declarou ainda que o bloco "é mais um problema que uma solução para o Uruguai" em entrevista ao "Canal 10", de Montevidéu.

A notícia se junta ao anúncio da nacionalização de hidrocarbonetos na Bolívia e representa mais um fator de enfraquecimento do bloco sul-americano.

O Uruguai integra o Mercosul como membro pleno do grupo junto com Argentina, Brasil e Paraguai, desde 1991, ano em que foi fundado com o Tratado de Assunção. A Venezuela está em processo de adesão plena ao bloco. Chile e Bolívia integram o Mercosul como países associados."

Nova reforma da Previdência

De Malu Delgado na Folha de S.Paulo, hoje:

"Está em estudo no governo, de forma silenciosa e discreta, a implementação de uma segunda reforma da Previdência e a adoção de uma política mais flexível do regime de metas de inflação a partir de 2007 caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja reeleito.

Lula tem dito a membros da equipe econômica que está satisfeito com os indicadores e não quer "inventar" mudanças num eventual segundo mandato. Só que ele e seus auxiliares sabem que não será possível crescer sem enfrentar o déficit da Previdência e temas espinhosos, como a desvinculação de receitas da saúde.

A Folha apurou que esses temas, que despertam reações negativas no PT, na sociedade e no mercado, não serão abordados abertamente na campanha. O discurso eleitoral será genérico, apontando especialmente a redução gradual da taxa básica de juros e de mais investimentos públicos como elementos cruciais para se obter crescimento econômico.

A nova reforma da Previdência não englobaria, inicialmente, mudanças no fator previdenciário (alteração no tempo de contribuição e idade para concessão das aposentadorias), conforme relatos de auxiliares do presidente.

A idéia central é apertar o cerco à concessão de alguns benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), como auxílio-doença, e investir na informatização de todos os postos do país para reduzir fraudes. Ainda neste ano o governo enviará ao Congresso todos os projetos para regulamentar os fundos de pensão do servidor público, assuntos pendentes desde a aprovação da reforma em 2003."

Petrobras da Bolívia

De Eliane Oliveira e Mônica Tavares em O Globo, hoje:

"O presidente da Bolívia, Evo Morales, determinou ontem a nacionalização de todas as etapas da exploração e comercialização do petróleo e gás no país. Na prática, o governo estatizou as subsidiárias de multinacionais presentes na Bolívia, entre elas a Petrobras. Tropas do exército ocuparam 53 campos de produção, refinarias e dutos, incluindo duas unidades da Petrobras. Surpreendido com a notícia, o governo brasileiro convocou para hoje uma reunião de emergência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com auxiliares. Nas palavras de um assessor próximo a Lula, o governo “foi pego de calças curtas”.

Lula conversará ainda nesta terça-feira, por telefone, com o presidente boliviano. Dirá a ele que, para a Petrobras, não há outro caminho a não ser recorrer à esfera judicial. A empresa brasileira tem investimentos de mais de US$ 1 bilhão na Bolívia e responde por cerca de 45% da produção de gás no país."

O Brasil já vive um apagão de gás, dizem especialistas, porque vem racionando o fornecimento às refinarias da Petrobras e às termelétricas localizadas no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste há cerca de um mês. Sem isso, faltaria gás para os demais consumidores. Leia mais.

Da coluna Panorama Econômico de Míriam Leitão, hoje:

"O governo brasileiro e a Petrobras erraram redondamente na Bolívia. A estatal acreditava que, por ser grande demais, não seria atingida; o presidente Lula achou que controlava o “companheiro” Evo Morales. Era previsível que Morales faria o que fez. Na estatal e no governo, prevaleceu um misto de arrogância com ingenuidade. A Petrobras está agora num impasse: o presidente da empresa disse que a ela não interessava ser prestadora de serviços. Mas terá que se contentar com esse papel. O ministro boliviano da área veio ao Brasil há quinze dias, falou grosso e avisou que os preços do gás vão subir". Leia mais

Enviada por: Ricardo Noblat"

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 02/05/2006
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