Maria João analisa Sombras de Natal

Comentar um texto é trabalho de garimpeiro. A golpes de pá e picareta, às vezes, consegue-se intuir a intuição do autor. E quando isto acontece, é uma festa! :0) Sabe muito bem o abraço entre autor e leitor.

Eu e a Bel já vivemos muitas situações deste tipo, ao longo dos últimos anos. E agora, aqui estou, de novo, a "candidatar-me" a mais uns bons momentos, lendo e interiorizando um conto-crónica ( nem sempre é fácil traçar uma linha divisória entre ambos...) que muito me tocou, até porque foi, precisamente nesta quadra, que partiu uma pessoa especial que amei muito: a minha Mãe. O significado do Natal não diminuiu de tamanho dentro de mim, mas não foi fácil, porque no meu caminho tinha-se apagado, para sempre, uma Luz vital: o sorriso de minha Mãe.

Hoje, o cheiro das rabanadas, que vem da cozinha, continua a juntar-se às melodias de Natal, porque este é amor e doação (é pena não o ser, para todos, diariamente...), mas há uma cadeira vazia à volta da mesa que nada nem ninguém poderá ocupar.

Por conseguinte, entendo este "desabafo" da autora (" Nada havia a ser comemorado") e o seu grito contra a comercialização do Natal, cuja mensagem está a ser adulterada, cada vez mais, numa época que cultiva a indiferença e se deixa dominar pelo egoísmo, consumismo, etc.

Num texto bem elaborado, a autora transmite ao leitor a dor da perda e as suas consequências. E a maior dor é, geralmente, aquela que a morte provoca.

Contudo, o texto tem momentos belos, com um brilho que se torna visível ("Tâmaras, damascos e passas sobre a mesa me trazem delicada imagem de papai..."). O eu narrador coloca, sob os nossos olhos, uma pessoa especial que tudo transforma à sua volta. Por isso, "a alegria era genuína naqueles dias...". Por isso, ainda hoje, "nas minhas mais remotas lembranças, ouço vozes alegres e francas que me dizem: - Feliz Natal, Belzinha!".

E terá sido também por isso que o jornal Diário As Beiras seleccionou este texto para publicação, no seu suplemento de contos de Natal.

Parabéns, Bel!

Abraço

Maria João