Os pobres e a ética - Republicação

Os pobres e a ética

Os pobres e a ética

Pedro Madeira

Resenha Crítica

Mauro Gouvêa

Prof. de Teoria Geral da Administração, Comércio Exterior, Comunicação Organizacional e Consultor em Gestão de Talentos

Pedro Madeira detona os preceitos de Peter Singer. Analisando a luz do que foi exposto, uma vez que não conheço a obra de Singer em sua íntegra, o que ele propõe é politicamente correto e exemplarmente ético, no entanto, com uma racionalização cínica porém verossímil, Madeira transforma Singer numa espécie de “Poliana”.

Negar as proposições de Singer é ir contra nossa educação judaico-cristã, mas indignar-se com as cruas conclusões de Madeira é assumir um cinismo e uma hipocrisia que normalmente escondemos dentro de nossas bíblias e mascaramos com nossa roupa domingueira de ir à missa.

As premissas foram muito bem exemplificadas e argumentadas. O que Madeira nos leva a refletir é sobre nossas posturas éticas vivenciais. As temos?

O que é realmente combater a pobreza, ainda mais a pobreza absoluta? Bastaria indignarmo-nos e distribuir esmolas ou levarmos uma vida de anacoretas? A civilização ocidental e a moral cristã nos obrigam a isso. Mas o fato de pertencermos a um mundo capitalista onde o “Ter” é muito mais interessante do que o “Ser”, também é algo inegável. Sob esse aspecto é muito pouco provável que pensemos em ética quando se trata de abdicar de nossa zona de conforto e de nosso status e do “status quo” dominante.

Vemos que é muito barato comprar uma postura ética e uma consciência tranqüila, basta darmos esmolas. Uma moeda é muitas vezes o preço de um coração leve. Quanta hipocrisia!

Como Madeira mesmo citou, as duas primeiras premissas de Singer são facilmente racionalizadas, é claro que os exemplos citados são paródias por serem extremos e contextualizadas podemos escolher entre sermos heróis da ética ou ícones da vilania. Quem se habilita?

Como negar que a pobreza absoluta é um mal? Ou ainda, será mesmo um mal necessário? São respostas muito mais filosóficas do que práticas, mas a erradicação deste mal nos leva a uma sociedade utópica, pois teria que se eliminar não só as diferenças econômicas e sociais como também as diferenças comportamentais de cada indivíduo sobre a face da terra.

Por fim, Madeira nos propõe um dilema e joga sal (ou ácido) sobre a ferida exposta de nosso individualismo. Somos responsáveis não só por nossas ações pontuais mas também e principalmente, por nossa inatividade e inércia no que tange a sermos éticos ou simplesmente, menos egoístas.