"Quem é Cristiano Araújo?!" A escalada a unhas de uma sociedade paralela, colorida, tentando ser rica, cult e tecnológica. por Rônaldy Lemos

A escalada a unhas de uma sociedade paralela, colorida, tentando ser rica, cult e tecnológica.

por Rônaldy Lemos

Cristiano Araújo, um dos mais proeminentes cantores sertanejos da atualidade, proprietário de um dos maiores escritórios de artistas do Brasil, e parceiro de Fernando e Sorocaba, outra importante dupla sertaneja.

Cristiano faleceu neste 2015 vítima de um acidente fatal que tirou sua vida, de carro.

Cristiano teve seu corpo exposto ao mundo, direto do necrotério para milhares ou milhões de smartcérebros, (corrijo, smartphones), com suas fotos espalhadas via web com a mesma velocidade que a luz se propaga no vácuo, praticamente.

Sua família foi mais do que exposta, tendo que lidar com esse problema absurdamente denecessário, como se já não bastasse a dor de perder seu filho de 29 anos de idade.

O nome "Cristiano Araújo", foi colocado a classe de algo, digamos, "ordinário" ou "insignificante" por um jornalista que, sendo aficcionado por Rock n´Roll, logicamente (ou não), desprezaria o gênero de música sertaneja.

Ok, desnecessário seria ainda hoje ficar destacando a dor da família ou apedrejando o jornalista ou a autora das malditas fotos, (se forem selfies pior ainda), embora a história toda tenha sido grande e ainda não se resolveu por completo).

Eu me refiro a esta atual classe econômica brasileira, que vive em um estado paralelo, (para não dizer "universo paralelo"), que mais do que consumir bens materiais de diversos formatos e com a chancela de "última geração", é uma classe que se isola nela mesma, criando seus bens e serviços, suas regras, suas metas e valores.

Natural, não seria diferente: mas se é pra viver na "falsa burguesia" atual, por favor, que se viva interpretando bem! Pelo menos com mais originalidade e um pouco de estilo!

Não é porque o eixo Rio - São Paulo acha que representa o Brasil todo que toda e qualquer opinião que vir de lá servirá de exemplo para os fusos horários e embaixadas do planeta Terra.

A saber, bandas e grupos de forró geram mais receita financeira com seus shows do que muitos artistas sertanejos reconhecidos nacionalmente. A grande diferença é a mídia em cima e a atenção com que estes dados são divulgados.

O Brasil tem todos os ritmos e culturas do mundo, com raríssimas exceções!

Não me manifesto por motivos alheios, muito pelo contrário! Sou do rock e do sertanejo, trabalhando desde sempre profissionalmente nestes dois gêneros musicais, e que seja do nordeste: adoro baião e Luiz Gonzaga!

Sou músico de carteirinha e amo com todas as palavras, o meu país chamado Brasil.

O que não se pode é dividir artistas e querer se colocar na posição de "país rotulado", por ações de grupos sociais, castas ou imaginários coletivos.

Se Cristiano era do "Bará bará, berê, berê", e o Michel do "Ai se eu te pego", ou qualquer outra letra fácil, simples, ou "sem sentido", como muitos dizem, eu não vejo problema algum nisso. Aliás, nunca fui a um show para pensar e filosofar. Nunca saí de lá com uma ata em mãos, pronto para registrar em cartório o que foi e não foi dito. Não vou a shows para elocubrar sobre o passado sócio-econômico do país ou mostrar minha intelectualidade.

Concordo obviamente que há estilos e estilos de shows e artistas, e muitos sim, tidos como intelectuais são altamente importantes, são tesouros nacionais.

Mas todos nós, especialmente nestes tempos delicados, somos estes tesouros, artistas ou não, do Teixeirinha a banda "30 segundos para Marte", que seja.

A classe social de que me refiro, que habita atualmente entre nós, é aquela que hoje, (posso estar enganado sim), não sabe se habita entre o estilo burguês de viver, como "falsos ricos", "falsos cultos", vintages, tecnológicos, pop´s e qualquer outra coisa nesses adjetivos, bambos, como pessoas bambas em sua primeira vez no "skyline".

Eu nunca vi uma mídia tão perdida nela mesma e tão colorida e gritante como essa nossa atual.

Tivéssemos ficado nos anos 90 seríamos um pouco mais revestidos de cores sóbrias e criteriosas com muita coisa que consumimos.

Artistas tendo que se desdobrar em 1000, em um aparato de bilocação jamais visto na história, produtores eletrônicos produzindo coisas simples, muito simples, e conquistando milhões com trabalhos absurdos, de tão "zombie food", (ou comida de zumbí") que são.

Downloads, críticas, agressões altamente corajosas de grupos escondidos contra negros, contra a Dilma, contra os processos políticos, contra a falta de cuidado com os animais e toda a sorte de agressividades e isolamento que, nestas algemas voluntárias, vamos caminhando e ralando nossas unhas recém feitas com dívidas e mais dívidas de toda a espécie.

2015, foi, está sendo e vai terminar assim, como sendo o ano da agressividade coletiva. O ano do mal-humor e do descontentamento. Dos guetos, dos segmentos, da lutinha armada que quem ganha é aquele que pensa poder mais. Pensa poder mais do que seu colega ao lado. Faces se misturam e sujam-se com seus sangues em discussões doentias e desenfreadas sobre política e gostos opostos: e claro, vence o que falar mais alto e esmurrar a sua mesa com o golpe final de sua palavra final.

É a sociedade egocêntrica, pseudo-bonita, a sociedade do "touch", da promoção, do vale-brinde, do "tudo é fácil", do "eu ganhei" do "eu malandrinho", do "eu cortei a sua frente".

É a sociedade que vive sem pensar no que está fazendo, sem pensar por ela própria.

É a sociedade que hoje, não acusando-a, mas torcendo para que de fato todas estas coisas mudem, pensa que o bonito, o bom, o "in" é se deixar levar por uma minoria que de tão pequena e com personalidade paupérrima, se torna grande em extensão; e apenas nisso.

É uma sociedade de ilusão, onde se segue um coelhinho que até hoje paga a prestação de seu smartphone.

E esse mesmo coelhinho é pobre em cultura e por pura preguiça não vira seu pescoço para o lado para ver o mundo ao seu redor.

Que esse mundo nao é o seu "i mundo", mas há muito mais além dele.

Há muito mais o que se ver, conhecer, trabalhar e respeitar.