“Notas mortais” sobre um Anime.

Primeiro, eu já aviso: haverá “spoilers”. Leia somente até o quinto parágrafo, no caso de você ser um(a) completo(a) leigo(a) sobre a obra que falarei por aqui.

Segundo, eu quero dizer que tudo que aqui será descrito, não é uma recomendação para que o filme ou o Anime, não seja assistido. Muito pelo contrário. Eu peço a você que, primeiramente, adquira o Mangá e que também assista o Anime. Depois, peço que você veja o filme. É sério. Mas, recorra ao Mangá e ao Anime primeiro. Leia o Mangá e assista o Anime, na ordem que quiser.

Terceiro: fanáticos(as), por favor, fiquem calmos(as) e leiam com muita calma. Se o(a) prezado(a) leitor(a) for do tipo “fanático(a)”, sugiro que nem leia. Mas antes de qualquer crucificação indevida, apesar da crítica que farei, eu achei o produto um entretenimento divertido como qualquer outra obra da cultura japonesa. Eu realmente me diverti. Então, cuidado ao expor sua posição contrária. Não faço isso para agredir ninguém. Vou avisar isso por mais vezes, só pra deixar bem exposta a minha boa fé.

O que me leva a construir esta crítica é apenas este direito que é inerente a qualquer ser humano. Minhas considerações, são apenas um mero reflexo da minha forma de abstração sobre os inúmeros produtos que a vida nos oferece. Não é para implicar com o gosto de ninguém, não é desvalorizar o trabalho de um artista que deve ter batalhado muito para chegar ao grande sucesso que obteve na vida. Não é inveja, não é frustração. É apenas uma consideração que é cabível a todo ser humano quando algo é ofertado a este para entretê-lo. Então, peço por favor, tenha civilidade para argumentar contra a crítica que farei. Pois não é nada pessoal. É somente um ponto de vista.

Assisti ao filme da empresa provedora de streaming sobre o Mangá/Anime “Death Note”. Sim, menciono o título da querida obra do grande Tsugumi Ohba, mas não da provedora. Nada contra, gente, sério. Mas não sou pago por tal provedora para fazer publicidade gratuita. Também não sou pago pelo Ohba, mas, minha crítica se centraliza na obra que ele desenvolveu. O foco é a obra em questão que foi produzida para o cinema por esta provedora. Enfim, a maioria das críticas foram muito negativas. Infelizmente, parece que o cinema não entende algo de grande importância. Certos tipos de produtos como certos jogos de videogames, Mangás e até mesmo alguns heróis de Histórias em Quadrinhos, atendem somente a um público específico. Nesta utopia — que de verdade, eu acho muito bonita — de “abranger a todos”, o cinema acaba cometendo várias falhas. Pois é preciso inventar “narrativas extras”, moldar personagens de acordo com censuras e quesitos universais, um monte de coisas que no final, desagradam não só o público fã de tal produto em geral, mas como também, não conquistam essas pessoas novas que nunca foram fãs e que a indústria almeja incluir. Cineastas! acordem! nestes meios aos quais me referi anteriormente, tentem atender aos fãs primeiramente. Façam disso uma obrigação ao tentarem adaptar projetos específicos como certos jogos, quadrinhos e Mangás.

Então, assisti o filme. Foi um pouco estranho mesmo. É apresentada a nós uma adaptação realmente muito diferente do Mangá e do Anime. Perdeu bastante da ambientação sombria da trama e algumas ideias foram bastante arriscadas ao meu ver. Mas não achei um filme ruim demais, tal como muitas das pessoas fãs da obra de Ohba dizem por aí. Em minha opinião, dá para assistir. Tem muita coisa pior adaptada por aí. E por que eu digo isso? bom, acho que os motivos daqui por diante, é que poderão causar algum furdunço.

Gente, Death Note é uma obra muito bacana, mas a história tem particularidades que dentro de uma ótica minuciosa, tem coisa que simplesmente “não dá”. Acho que é isso. Tem coisa que “não dá”. Vamos começar. Uma entidade que simboliza a morte na cultura japonesa, tem um caderno onde anota o nome das pessoas que vão perder suas vidas. Entediada com sua vida no mundo em que habita, tal entidade "perde" este caderno no mundo dos humanos. O objetivo da entidade é simples: ver “o circo pegar fogo” para matar seu tédio. Então, de todas as pessoas possíveis, um dos jovens mais intelectualmente mais promissores da sociedade japonesa, encontra este caderno. Este caderno tem sua finalidade explícita e instruções de uso. O jovem genial faz um teste e vê que o caderno tem realmente poderes sobrenaturais. Daí em diante, ele resolve “purificar” a sociedade da violência, anotando o nome de homicidas de vários tipos, que morrem instantaneamente após terem seus nomes escritos no caderno letal. Só que as mortes sucessivas destes homicidas que ocorrem de modo muito similar, chamam a atenção da polícia, que passa a investigar a razão de homicidas estarem morrendo continuamente e da mesma forma. Aí, a coisa cai pra Interpol que então, decide chamar um “super detetive”, que também é brilhante intelectualmente como o portador do caderno sobrenatural. Este detetive é um jovem com Q.I. muito alto que foi adotado por uma fundação criada por um cidadão que um dia, teria sido um inventor bem sucedido. Este inventor criou tal instituição para crianças órfãs. Mas dentro desta instituição, as crianças com intelecto alto, são treinadas para se tornarem algo como “super detetives” e se não é isso, o intelecto destes tem então, o propósito de ser útil para o desenvolvimento da humanidade. Então, o detetive brilhante, consegue seguir os passos do nosso “jovem justiceiro”. E aí, em determinado momento estes se confrontam e nossa! ambos passam a frequentar a mesma faculdade! ambos chegam até se algemarem, pois o super detetive tem quase total certeza de que o jovem mais genial do Japão é o assassino do assassinos que morrem usualmente de infarto. E no ápice, o super detetive é derrotado. Mas, este detetive já tinha um sucessor. Também dotado de Transtornos Obsessivos Compulsivos — esqueci-me de mencionar isso sobre o outro detetive antes, clichê muito habitual de personagens com intelecto alto. E no fim, o japonês mais inteligente que existia e que matou um monte de homicidas é derrotado pelo sucessor do falecido super detetive. A entidade ceifadora de vidas acompanhou o processo do início ao fim. Quando tudo acabou, se saciou com o espetáculo e voltou para o seu mundo. Fim.

Este é o meu resumo. Vamos começar com uma pequena questão: nenhuma polícia, mesmo uma ou outra dos EUA que às vezes conta com ajuda de pessoas que supostamente são capazes de prever o futuro e estas coisas, mesmo este tipo de polícia, jamais, eu digo, jamais investigaria um caso como uma “questão sobrenatural”. Jamais! mesmo um caso como em Death Note, seria visto de mil formas, como um “fenômeno psicológico”, seja lá o que for, mas a linha de abordagem seria completamente científica. Tenham certeza que polícia jamais teria a linha de abordagem sobrenatural.

Outra questão: por que o Shinigami, o “ceifador” da mitologia japonesa, não jogou propositalmente o caderno no caminho do Raito? é uma entidade que pode ver o que acontece na Terra, se assim ela o quiser. Ele poderia saber que o Raito era brilhante e que seria divertido testá-lo. Mas, de um zilhão de pessoas, o “caderno da morte” cai acidentalmente no campo de visão de um dos jovens mais promissores do Japão que além de tudo, é um psicopata?!

Mais uma questão: o “L”, o detetive espetacular autônomo. Gente, por que a coisa fugir do escopo do Japão? por que não ficar por ali? por que o “L” não ter sido um super policial japonês e super inteligente apenas? minha nossa! ainda entra o FBI na história! e o FBI, adotando o sobrenatural como linha de investigação!

Vejam, minha crítica está no super dimensionamento que as pessoas dão à trama no Mangá e ao Anime, em detrimento da trama do filme da provedora de streaming lá. Nesse ponto de vista, mediante aos apontamentos críticos que estou fazendo aqui, o filme da provedora é razoável, gente, me perdoe, mas é razoável. Para uma pessoa que após assistir ou ler Death Note, analisa essas mesmas circunstâncias que mencionei antes, perceberá que a obra meio que anda esquisita em coisa ali e aqui. Então, acho que no fim, o filme até parece ter um pouco dessa preocupação, limitar as coisas.

Querem um exemplo de Anime que trabalha muito bem e se mantém em linha de concisão o tempo inteiro, exceto talvez — opinião minha, por conta de algumas filosofias particulares questionáveis por parte do autor? o Anime “Kiseijuu: Sei No Kakuritsu”, conhecido também como “Parasyte”. Eu considero até uma obra nem tão adulta assim, como alguns classificam em termos de censura. Tem anime “infantil” por aí, com muito mais sanguinolência e sensualidade. Mas, gente! o Anime é muito objetivo no desenrolar da trama. Não li o Mangá ainda, mas me encantei com o Anime. Eu amei Death Note também, tá? mesmo criticando aqui. Eu me diverti com o Shinigami o tempo inteiro, assisti na época em que passava naquele canal de Animes da TV a cabo, hoje extinto — eu acho. Mas voltando o Anime Parasyte, a trama se desenvolve muito bem em tudo. Na questão existencialista, nos dilemas morais, tudo muito bem desenvolvido. O autor não enfatiza o desenvolvimento da trama na questão da origem sobre as criaturas que são os objetos centrais de sua história, porque na verdade, creio eu, estas criaturas são como meras alegorias para trazer à tona uma discussão ainda muito maior. Tudo neste Anime é “redondinho”, bem desenvolvido, as investigações policiais, as estratégias policiais e militares, tudo é bem delimitado, tudo é bem amarrado. Em minha opinião, Death Note, apesar de ótimo, não tem essa desenvoltura como vejo em Parasyte. Peço desculpas ao autor por minha crítica neste ponto. Mas acho que a simplicidade e objetividade, tal como em Parasyte, faria de Death Note uma obra ainda muito mais fantástica.

No mais, como escrevi anteriormente, minha crítica é uma de milhares que existem por aí. Não quero que ninguém se sinta ofendido com o que escrevi e aceito argumentos contrários. É bom debater e aprender, sempre.

Ah! sim! eu não posso esquecer. Apesar de tudo, eu sou fã de Mangás e Animes diversos. Eu ainda prefiro Death Note em Mangá e Anime, do que a versão fílmica da provedora de streaming — só para constar. Desculpe aí, pessoal da provedora. É que, apesar do ótimo jovem ator que vocês escolheram, depois de ler o Mangá ou assistir o Anime, o Raito versão “mamãe, me dá colinho” é realmente difícil de engolir.

Dan Fayal
Enviado por Dan Fayal em 27/04/2018
Código do texto: T6320655
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