Essência da Velhice (o velho)

"A velhice é calculada não a partir do ano de nascimento, mas tendo como referência o último ano de vida." (Domenico De Masi, sociólogo pesquisador italiano, fundador da "International School of Cultural Management").

Aspectos sociais, culturais e políticos relativos a valores, preconceitos e sistemas simbólicos permeiam as relações sociais estabelecidas entre o grupo dos idosos e o grupo dos não idosos na sociedade contemporânea.

Tais esquemas, utilizados para manutenção de privilégios e poder, levam uma coletividade a elaborar uma representação positiva de si, estabelecer a distribuição das posições e papéis sociais, exprimindo e impondo crenças comuns e determinando quem são os outros.

A categoria "velho" é uma construção social utilizada para situar o indivíduo nas várias instituições da sociedade, em proveito da ordem social e do poder.

As representações, por se apoiarem em um sistema simbólico e arbitrário de um determinado grupo, trazem consigo a classificação dos sujeitos, entendida como uma “[...] operação que consiste em hierarquizar as coisas do mundo sensível em grupos e gêneros cuja delimitação apresenta um caráter arbitrário”. Tal classificação se corporifica na dominação de determinado grupo sobre outro, e se mostra arbitrária na medida em que não se fundamenta em nenhum princípio universal, físico, biológico ou espiritual.

Na representação, cria-se a identidade do outro em relação a um ponto de vista de determinado grupo que usa dessa estratégia numa tentativa da universalização da sua visão de mundo. (cf. Pierre Bordieu, sociólogo e filósofo francês, professor na "École de Sociolofie du Collége de France").

"O envelhecimento (processo), a velhice (fase da vida) e o velho ou idoso (resultado final) constituem um conjunto cujos componentes estão intimamente relacionados.

[...]. O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no

qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam diminuição da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte.

Às manifestações somáticas da velhice, que é a última fase do ciclo da vida, as quais têm características próprias que levam, por exemplo à redução da capacidade funcional, resistência, entre outras, associam-se a perda dos papéis sociais, solidão e perdas psicológicas, motoras e afetivas." [Dr. Matheus Papaléo Netto, geriontologista].

Isso quer dizer que, na ótica de análise científica, prevalece a visão do envelhecimento no seu aspecto biológico.

Simone de Beauvior, por exemplo, creditou que somente pode-se falar de velhice (velho) quando, além da idade avançada, as perdas biológicas se tornem incontornáveis. Assim, no dizer de Beauvoir, a velhice se reduz aos últimos meses que precedem a morte.

"Exercer um poder simbólico não consiste meramente em acrescentar o ilusório a uma potência “real”, mas sim em duplicar e reforçar a dominação efetiva pela apropriação dos símbolos e garantir a obediência pela conjugação das relações de sentido e poderio. [...] Os dispositivos de repressão que os poderes constituídos põem de pé, a fim de preservarem o lugar privilegiado que a si próprios se atribuem no campo simbólico, provam, se necessário fosse, o carácter decerto imaginário dos bens (imateriais e materiais) assim protegidos."

(Bronislaw Baczko, filósofo e historiador intelectual [historiador de ideias] polonês, professor da "Clermont Ferrand" e da

École des Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS) em Paris)

Referência: Souza Rodrigues, L. & Soares, G.A. in "Velho, Idoso e Terceira Idade na Sociedade Contemporânea", Revista Ágora, n.4, p. 1-29.