WWJD? (ou "O que Jesus faria com os fanáticos?", ou ainda: sobre o filme "SAVED!" )

O diretor Brian Dannelly (da fantástica série "Weeds", que aqui passa no GNT) tem a resposta.

Seu filme "Saved" (2004, portanto anterior à série, que estreou no ano seguinte), ganhou minha atenção e meu aplauso nesta noite apesar do codinome ridículo em português ("A Galera do Mal", na programação do Telecine Premium). Cercado de gente muito boa como Michael Stipe - líder do REM e co-produtor), as belas Jena Malone e Mandy Moore e Mary-Louise Parker, Dannelly ainda conseguiu uma excêntrica participação do "sumido" Macaulay Culkin (que rouba a cena como de hábito).

Tudo isso para falar de uma comédia adolescente como nenhuma outra, simples, (ab)usando de clichês surrupiados de outros filmes sobre a vida colegial americana, porém ácido e contundente em sua crítica à uma América cada vez mais conservadora, (pseudo) religiosa e maniqueísta.

O "WWJD" ("What Would Jesus Do?" ou "O que Jesus faria?") lá em cima se refere à campanha maciça de "divulgação" da "palavra de Deus" promovida por uma organização comercial americana (tem CEO e tudo, entre no site e verá!) , que desde 1996 vem vendendo toda espécie de quinquilharia "sagrada" aos incautos porém ricos cristãos adolescentes (ou nem tanto) dos EUA. É apenas a ponta do iceberg em um mercado que inclui livros didáticos e doutrinários, shows e bandas de rock "cristão" e atividades missionárias e atividades afins, de comum acordo e apoiadas por inúmeras denominações protestantes da América.

Seu objetivo? Cooptar e fanatizar uma nova geração de Bush-puppies? Não chega a tanto, uma vez que a eleição de Mr. Dabliu é posterior ao fenônemo. Mas a aceitação crescente de pais e filhos a esta radicalização catequética da fé no país faz-nos refletir sobre o futuro da "grande nação".

Gays, drogados e mães solteiras "tratados" da mesma forma em "Casas da Misericórdia" (ou seja lá o nome real da coisa) é uma palhinha do impressionante quadrto pintado pelo filme, onde uma garota grávida (vivida por Malone) encontra em sua comunidade "cristã" tudo, menos o discernimento e o apoio necessários. A hipocrisia dos fanáticos esmurrando o próprio peito em nome de uma fé auto-infligida esbarra no filme com a realidade doce, pujante e nada fácil de entender de adolescentes normais, vivendo seus conflitos e repetindo - quase sem querer - os mesmos padrões de comportamento que em outros filmes sobre a faixa etária são chavão: a loura boazuda e "popular", os "losers", os "freaks", etc.

Dannelly trata do tema com sensibilidade e sem culpar ninguém - afinal, Deus/Jesus ama a todos, não? - mas com a seriedade e preocupação que o tema merece. Um filme obrigatório para quem habita o estado do Brasil que corre o mais sério risco de albergar estas "casas correcionais" doutrinárias e antidemocráticas, como já proposto pelo casal governante em mais de uma ocasião.

Ah! Para você que achou o tema meio hermético e distante de nossa realidade, fique sabendo que as pulseiras plásticas amarelas com a inscrição "LiveStrong" da Nike, produzidas a pedido do velocista Lance Armstrong, são o carro chefe da WWJD...

Renato van Wilpe Bach
Enviado por Renato van Wilpe Bach em 07/04/2006
Reeditado em 07/04/2006
Código do texto: T135067