AMARELO MANGA

Um dia embaçado. Um dia em que tudo acontece, depois vem a noite (que é a melhor parte) e começa tudo de novo. Um outro dia, uma outra oportunidade para as coisas postas envelhecerem, desbotarem e perderem o brilho. Ser humano é estômago e sexo. O resto é coisa, é cerveja e comida de boteco... e tem mais: só os cães são fieis.

Levou nada mais nada menos do que 10 prêmios para casa, no XIII Cine Ceará, 2003, nas seguintes categorias: melhor filme, melhor diretor, melhor ator (Matheus Nachtergaele), melhor atriz (Dira Paes), melhor roteiro, melhor fotografia, melhor edição, melhor trilha sonora, melhor direção de arte e melhor figurino.

Parece pouco para um filme de baixo orçamento? Pois senta que tem mais: Prêmio da Conferederação Internacional dos Cinemas de Arte e Ensaio como melhor filme do Fórum do Festival Internacional de Berlim, 2003. E, para terminar, ganhou o prêmio de melhor fotografia, no 7º Festival de Cinema Brasileiro de Miami, 2003.

Um filme de Claudio Assis, com Matheus já sabem quem, Jonas Bloch, Dira Paes e amor, Chico Diaz e Leona Cavalli entre muitos outros, excelentes pessoas. Cara, é o Brasil na tela, é o Recife na tela, é o subúrbio da tua alma amarelo manga, tudo assim, meio autêntico, meio clandestino, meio homem, meio menino em uma fotografia rabiscada, quase suja.

Não há como não lembrar de Baixio das Bestas, outro filme do mesmo Diretor, talvez por parecer mais do mesmo, ou não... Por ser tudo Pernambuco, ou não... Por ser tudo alma humana, ou não... Por ser real demais, isso sim...

Tudo isso com aquele jeito... do tipo crônica de Renato Carneiro Campos: “Amarelo é a cor das mesas, dos bancos, dos tamboretes, dos cabos das peixeiras, da enxada e da estrovenga. Do carro de boi, das cangas, dos chapéus envelhecidos, da charque. Amarelo das doenças, das remelas dos olhos dos meninos, das feridas purulentas, dos escarros, das verminoses, das hepatites, das diarréias, dos dentes aprodecidos… Tempo interior amarelo. Velho, desbotado, doente.”

Neste filme, Amarelo é o dia, amarelo é o filme, amarelo é o Mercedes amarelo.

Ocirema Solrac
Enviado por Ocirema Solrac em 17/03/2010
Código do texto: T2142926
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