Mary and Max, vá ver mas deixe seu filho em casa

Este stop-motion com massinhas, espetacularmente repelente, com tons cinzas ou marrons e quase total ausência de outras cores em nada contribui para o bom humor de quem quer que seja. Jamais leve seu filho para ver a menos que queira criar um neurótico compulsivo e de alguma forma agorafóbico. Já bastam para tanto o videogame e o computador que você comprou no Natal passado. As massinhas ambulantes protagonizam a animação mais depressiva do planeta, sendo certo que a improbabilidade tanto do encontro como do relacionamento de ambas as personagens é tão grande que acaba dando certo. Você ri no começo e chora no final. Nem parece que se trata de massinhas a partir de certo ponto, apesar de que a pureza das personagens logo permite ver que não são humanos. São ingênuos e pueris, mas te fazem pensar na sua vida, em como você não se relaciona com as pessoas à sua volta, sejam pais ou vizinhos. As perguntas mais idiotas possíveis permeiam a correspondência de duas pessoas que além de não se conhecerem não possuem nada em comum. Absolutamente nada. São parceiros de correspondência, ou amigos por correio (pen-pal), uma destas coisas extintas, muito em voga em décadas passadas, substituídas pelos amigos virtuais online. Talvez se o filme tratasse das figuras do orkut/messenger, ou coisa que o valha, não tivesse tocado tanto. Ao mesmo tempo, mostra porquê estas formas virtuais de relacionamento se expandiram tanto. Adam Elliot (que escreveu e dirigiu Mary and Max) escolheu dois personagens confusos e com alto potencial de patologia. Totalmente depressivos e improváveis de poderem existir na mesma tela em um cenário quase incolor, repulsivo e, ainda assim, mais interessante e detalhado do que os protagonistas, talvez por pretender exatamente o que conseguiu: a reflexão. O filme todo é um absurdo, mas atinge o objetivo de fazer pensar nas relações com os parentes e os vizinhos. Afinal de contas, o que é uma amizade? O que acontece, enfim, para que uma pessoa consiga se relacionar, conversar e fazer amizade com um “outro” que nunca viu? Como é que sequer cumprimentamos os nossos vizinhos e mantemos grandes e demoradas conversações com estes seres milhas e milhas distantes? Qual a lógica nisso? Nenhuma... E é exatamente esta falta de lógica que é explicitada neste Filme comovente.

Mary and Max, vá ver mas deixe seu filho em casa.

Ocirema Solrac
Enviado por Ocirema Solrac em 21/04/2010
Reeditado em 21/04/2010
Código do texto: T2210730
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